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carnaval não é bagunça


carnaval 2017 5Meu carnaval a cada ano que passa consegue ser mais especial. O carnaval de 2017 foi incrível pra mim, e cheio de coisas diferentes. Mesmo estando na mesma cidade, ouvindo as mesmas músicas, encontrando as mesmas pessoas, foi diferente. Primeiro, porque eu estou diferente. Não sou a mesma de ontem, quem dirá do carnaval passado. Segundo, porque vivi detalhes diferentes que fizeram dos meus dias super especiais.

carnaval 2017 6

Foto: Gabi Lobo

Fiz minhas fantasias! Não é ter a ideia e mandar fazer. Não é ter a ideia e comprar as coisas e juntar num look. Não é ter a ideia e customizar uma peça ou outra. EU FIZ AS FANTASIAS! E isso me deu um orgulho (e um trabalho!) tão grande! No sábado eu saí de arara, com minhas asas coloridas que eu fiz durante dias, usando um maiô que eu decorei com brilhos pedrinha por pedrinha, um penacho alto na cabeça que eu montei pensando: só perde essa arara de vista quem quiser! Até os brincos eu fiz. :) Estava me sentindo a pessoa mais linda das ladeiras. E quem vinha me elogiar eu dizia: TÔ DEMAIS, NÉ?! E segui batendo as asas e distribuindo sorriso das 11h da manhã no Trinca de Ás até depois do Homem da Meia Noite. Fui para blocos que eu nunca tinha ido, deixei de ir para blocos que eu vou há anos, fui pro show de Orquestra Contemporânea de Olinda e depois de Eddie com Karina Buhr e Isaar que nem esperava ir e foi incrível, encontrei e reencontrei pessoas amadas por onde passei. Oh jeito bom de começar o carnaval!

carnaval 2017Foto: Rafael Medeiros

bloco dos sujosNo domingo, o dia que geralmente eu tô passando mal por conta do dia longo do sábado, juntei minhas forças e fui prestigiar o bloco do boy com um aviso: use uma roupa que pode sujar. Então o look foi nada de mais. Um pedaço de chita que ganhei num presskit e virou uma saia e um top hehehe :P O Bloco dos Sujos não decepcionou. Depois da distribuição dos tradicionais pitulés, o percurso geriátrico evitando os maiores empurra-empurra das ladeiras foi massa. Depois de ser julgada por querer tomar um banho, fui suja mesmo pro já tradicional no meu roteiro: a festa do I Love Cafusú. Que festa arretada. Quanta dança, quanto sarro, quanto beijo, quanta gente querida.

carnaval 2017 2Foto: Bora Mago

pessoal da igreja Foto: Clara Gouvêa

vaca profana 2Foto: Antônio Leão vaca profana Foto: Iris Baccaro

A segunda era o dia mais esperado por mim. O dia de desfilar com blocos que ajudei a fundar, com blocos dos amigos, o dia de encarar Olinda de peito aberto e nu. O dia de mostrar que a união faz a força e juntar o Bloco Femmi Vaca Profana, Pessoal da Igreja, Bora Mago e O Sol Tá Massa num desfile único, regido por uma orquestra formada por 20 mulheres. O dia de me juntar a mais de 50, talvez 70 (será que 100?) mulheres com os peitos de fora gritando que MACHISTAS, FASCISTAS, NÃO PASSARÃO! Dançar vestida de glitter, com amigos e amigas fazendo um cordão de isolamento humano para nos preservar daqueles que não entendem o que significa MEU CORPO NÃO É UM CONVITE. Uma união não só de blocos, mas de pessoas que estão aqui para fazer uma revolução. Para cantar junto, para dar água, cerveja, batida, beijo, força, voz. Foi um dia épico, histórico. Feliz demais em ver tanta gente querida se juntar querendo fazer a diferença. Querendo mostrar que carnaval não é bagunça. É cultura, é política, é a vida da gente.

Neste dia eu não só desfilei com as meninas, mas tive a oportunidade de ouvir coisas que realmente fizeram a diferença na minha vida. Ouvi “Terrinha, eu aprendo muito com você.”, ouvi que “Você é uma mulher que eu respeito e que quando abre a boca eu faço questão de parar pra ouvir.”, ouvi que “A parte mais bonita foi quando você foi agradecer de um por um que estava no cordão, quando a gente que queria agradecer a vocês que estavam dentro dele.”, ouvi “Isso é importante pra mim, que como homem que errei demais, sei que posso aprender com meus erros e com vocês.”. Ouvi tanta coisa linda que nem sei contar. Foi, sem dúvidas, o dia mais do que emocionante e que vai ficar marcado na minha vida pra sempre. E ano que vem tem mais. E vai ter mais mulher. E vai ter mais homem. E vai ter mais gente, que é isso que importa. Vamos todos que juntos somos mais fortes. Depois disso, só um belo show de Otto no Pátio de São Pedro pra fechar o dia com chave de ouro. Que dia!

carnaval 2017 3Na terça-feira foi difícil pegar no tranco. Ainda absorvendo tudo que foi a segunda, foi dia de ir mais tarde pra Olinda e começar com um show de Academia da Berlinda pra acordar os músculos. Eu e minha roupa de pranta, com uma Catuaba Selvagem debaixo do braço, desfilamos pra cima e pra baixo. Foi muita pranta, viu? Fiz arranjo pra cabeça, brinco, arranjo para os braços, fiz o busto, a saia, e tome pranta. Costurei, colei, amarrei, enrolei e adorei o resultado. :) Não saí do tradicional vermelho e amarelo da terça,  apesar do objetivo do dia ser mesmo ir atrás do Eu Acho É Pouco, que é bom demais. Como eu não tinha visto no sábado, fiz questão de acompanhar o dragão com seu gigante FORA TEMER estampado. E teve gente gritando FORA TEMER o carnaval todo sim. E teve gente reclamando de quem gritava FORA TEMER sim. E tem que ter tudo isso. Porque a voz da gente também ecoa no carnaval. Não só nele, assim como não só no Facebook, não só no sofá, não só na internet. Mas também. Então, por isso, tome mais um: FORA TEMER!!!

O EAEP, tão tradicional, teve que mudar de rota por conta de um acidente com um caminhão. E até isso fez a diferença. Tudo nesse carnaval tava mesmo pra ter alguma mudança. Especialmente inesperadas mudanças. E foi lindo do jeito que foi. Foi especial do jeito que foi. Inesquecível do jeito que foi.

Carnaval não é bagunça. Carnaval é uma energia muito forte envolvida. Trocamos muita coisa nos encontros, nos beijos, nos abraços, nos discursos. A fantasia do meu ideal não é bagunça. E ano que vem tem mais coisa séria pra gente mostrar, fotografar, sorrir e chorar. Carnaval doismiledezessete, você foi foda. Obrigada. <3

P.S. Algumas fotos estão ruins porque foram tirados prints do celular assim que foram publicadas no Instagram, já que logo em seguida elas foram apagadas pela plataforma por conta da nudez. Então, quem tiver fotos legais dos blocos, manda pra mim! :D 


o que eu aprendi sobre apropriação cultural


“Ah mas quem é você mulher branca classe média pra falar em apropriação cultural?!”

Calma, migas. Eu não vim cagar regra sobre o que é ou deixa de ser apropriação cultural. Eu só vim compartilhar um pouco do que eu aprendi sobre o assunto, depois de abrir uma discussão bem saudável em um post no meu Instagram e Facebook. Até então, o que eu tinha lido e ouvido das pessoas sobre isso era bem superficial, algo tipo “é da minha cultura e você não pode usar”. Mas não é isso, o buraco é bem mais embaixo. Mal comecei a escrever o post e já sei que ele vai ficar enorme e talvez cansativo. Mas eu te convido a vir comigo, baixar a guarda, e tentar absorver um pouco (bem pouco) do muito que é esse assunto.

turbante e apropriação culturalFoto: Victor Jucá

Fui passar uns dias no Festival de Inverno de Garanhuns, e em um dos dias eu resolvi sair de turbante. Gosto de usar, já usei várias vezes em Recife, acho lindo e, de quebra, aquece minhas orelhas no frio de lá. Recebi alguns elogios de como estava bonita a amarração que eu fiz, recebi uma crítica velada de uma amiga perguntando se eu tinha virado negra empoderada pra estar usando o turbante, mas o que mais me impressionou foi um grupo de mulheres negras que passaram e gritaram algumas coisas pra mim. Eram coisas tipo “esse nó na cabeça é algo muito mais importante do que você imagina” e alguns outros comentários que eu mal ouvi mas que sei que foram proferidos de forma agressiva. Eu confesso que fiquei bem triste com isso. Mas sei que por trás desse tapa que eu levei, haviam argumentos que eu não poderia alcançar sozinha. Por isso, postei essa foto pedindo a opinião das pessoas sobre o assunto e recebi os mais diversos feedbacks. Vou tentar organizar aqui a linha de pensamento pra gente começar.

Primeiro, eu sei que o lugar de fala é das mulheres negras e que a gente deve ouvir e absorver as informações. Eu acredito que todos podemos expressar nossas ideias e opiniões sobre isso, pois só crescemos debatendo, mas o que não podemos é julgar ou pormenorizar o que for dito por elas sobre este assunto.

Aprendi que não é sobre indivíduos, é sobre sociedade. Não podemos individualizar a discussão. Então não vamos aqui falar de casos isolados e nem vir com argumentos de “mas eu não sou assim…” ou “mas comigo é diferente…”. Não é sobre você, não é sobre mim, é sobre a sociedade na qual estamos inseridos. E, como todo caso, vão existir excessões. Mas aqui vamos falar do geral que é o que importa.

Aprendi que não é só sobre cultura, mas sim sobre a relação de oprimido e opressor. Ou seja, brancos são estruturalmente opressores, e negros são oprimidos. Não interessa se você é uma pessoa branca e diz que não é racista. Só por ser branca você está montada em um castelo de privilégios, quer você queira ou não. É como a relação de homens opressores e mulheres oprimidas. Não interessa se o homem é gay, militante LGBT, defensor de todas as causas feministas. Ele é homem e a sociedade aceita mais ele do que aceita as mulheres. Então a relação aqui é essa. Não vamos levantar a guarda e dizer “mas eu não sou opressora” porque, como disse acima, não é sobre você. É sobre a sociedade.

Aprendi que não é uma via de mão dupla. Não é apenas o trânsito de uma cultura pra outra. Isso pode ser uma troca. No entanto, exatamente por ser uma relação de privilégio envolvendo raça, classe ou religiosidade, que o uso de determinados símbolos por uma cultura dominante pode promover o esvaziamento dele para a sua cultura de origem. Ou seja, quando brancos usam símbolos afro, esses símbolos vão perdendo o seu sentido e o seu uso vai sendo deturpado. Quando um negro usa um símbolo de branco, não será esse seu uso que vai mudar o significado do símbolo. Exatamente porque o branco é dominante e tem esse poder de promover e alterar o sentido das coisas.

Aprendi que não é sobre quem inventou o turbante, quem usa primeiro, que cultura é “dona” de tal acessório. Então, não adianta vir com aula de história falando de onde surgiu o uso do turbante e o significado dele em cada sociedade. Estamos no Brasil e aqui a nossa cultura é negra, não é árabe, sabe? Se você é branco e é do candomblé, massa. Se você é branco e de família árabe, tudo bem. Mas você é minoria e aqui voltamos á pra cima: não é sobre indivíduos, é sobre sociedade.

Aprendi que não é sobre liberdade de usar/ fazer/ falar o que quiser. E também não é sobre proibir. É muito fácil falar que somos livres para fazer o que queremos quando, na verdade, a liberdade do outro pode nos oprimir. Os homens são livres pra falar o que quiserem para as mulheres? Mulheres são livres para falar o que quiserem para gays ou trans? Podemos sim falar o que quisermos, mas isso tem um peso e um preço. Então, aprendi que aqui é sobre fazer escolhas e sobre bom senso. Ninguém vai te proibir de nada, mas você é responsável pelos seus atos.

Aprendi que também é sobre empatia. É sobre tentar se colocar no lugar do outro, apesar de que nós privilegiados nunca vamos saber a dor e a luta de quem é oprimido, mas podemos tentar imaginar os seus incômodos e pensar o que podemos fazer para evitar ou minimizar essa dor. Essa relação começou a fazer muito mais sentido pra mim. Pensar no uso do turbante pela ótica da sororidade.

Aprendi que não é sobre a intenção de machucar. Quem pisa no pé do outro sem querer também precisa pedir desculpas, né? Afinal, você não quis, mas machucou a outra pessoa. E essa pessoa pode te desculpar, mas a dor dela não vai passar por isso. Então, mesmo que você não tenha a intensão de machucar, você vai terminar fazendo isso.

Aprendi que a sociedade gosta dos ícones negros, mas não gosta dos negros. Quando eu li isso me caiu um peso enorme nas costas. Porque estamos falando de símbolos de resistência e de luta que a sociedade ainda não aceita. Aceita em mim, que sou branca. Mas não aceita na preta, que continua sendo xingada na rua.

Aprendi que, na verdade, eu não fui xingada pelas mulheres negras que gritaram pra mim em Garanhuns. Elas não estavam falando comigo enquanto indivíduo, estavam gritando por uma sociedade branca que as oprime e que esvazia o sentido dos seus símbolos. E quando lembro da máxima “não podemos confundir a reação do oprimido com a violência do opressor“, tudo faz sentido pra mim.

Aprendi que, mesmo que eu defenda que temos uma sociedade para educar nas questões raciais, de gênero, de classe, e que só se educa com diálogo e com carinho, não foi assim que a sociedade foi construída. Sempre digo que na gritaria ninguém se entende, e tento com todas as minhas forças estabelecer diálogos sérios e sóbrios nas questões que envolvem machismo e feminismo, sem gritar para responder uma agressão. Mas diante de anos e séculos de opressão, não posso julgar a atitude de quem agora pode esbravejar para que a sociedade enxergue e respeite sua classe.

Aprendi que eu não preciso concordar com todos os argumentos que eu aprendi, mas também não posso julgar. Não é meu lugar de fala e não sou eu que vou tachar de “extremismo” ou dizer que é uma reação exagerada. Um homem não pode dizer que feminismo é extremo demais, então também não posso dizer isso das mulheres negras. Não tenho como me colocar no lugar do oprimido.

Aprendi que apesar de ser sobre sociedade e não sobre indivíduos, não é algo generalizado. Não são todas as mulheres negras que se incomodam com o uso do turbante e de outros símbolos por mulheres brancas, e que mesmo que se incomodem, muitas vezes não expressam isso. A minha foto do perfil do Facebook sou eu de turbante, e muitas as mulheres que comentaram que eu estava linda, que tinha arrasado e tudo mais, quando eu questionei sobre o uso do turbante tempos depois se colocaram contra. A maioria das mulheres negras que eu já tinha conversado antes de abrir o questionamento disseram não se importar, inclusive, são elas que trançam os cabelos das brancas, que ensinam as amarrações de turbante e pulverizam a utilização de outros símbolos pela sociedade.

Aprendi que a indústria da moda é muito mais cruel do que se pode imaginar. E a crueldade não está só na objetificação dos corpos, na imposição de um padrão de beleza quase inalcançável, mas também no esvaziamento do sentido de símbolos de luta e resistência, como turbantes, estampas afro e tantas coisas que a sociedade nunca aceitou em pretos e agora aceita em brancos.

Aprendi que não podemos julgar a ignorância social das pessoas. Muita gente não está por dentro dos debates sobre feminismo ou apropriação cultural ou outras lutas, sabe? Não podemos crer que, porque nós somos privilegiadas e temos acesso à informação, outras pessoas também tenham. Não podemos esperar que qualquer pessoa que sai na rua sabe exatamente que o que está vestindo ou falando tem um significado muito diferente para outras pessoas.

Aprendi que não será o fato de Anna Terra, indivíduo, mulher branca privilegiada de classe média, usar ou não usar o turbante que vai fazer diferença para a sociedade. Mas que, ao usar, eu não tenho como carregar uma placa dizendo “manas negras, eu entendo a luta de vocês e não estou usando isso para agredir, mas porque eu valorizo e compartilho dos seus ideais“. E que antes eu preciso pesar se a minha vontade de usar vale mais que a dor que eu posso causar em uma mulher negra militante.

Aprendi que, apesar de eu ter aprendido tanto, ainda não consegui formar uma opinião muito concreta sobre isso. Mas que consegui reunir muita informação válida sobre o assunto e que meus atos agora serão muito mais esclarecidos e pensados.

Aprendi também que tenho amigxs maravilhxs e muito pacientes para compartilhar suas ideias e explicar direitinho seus argumentos. Muito obrigada! <3

Aprendi muito mais ainda vendo esse vídeo, que convido vocês a assistir e refletir sobre.

Além disso, vou linkar aqui algumas outras referências bem interessantes sobre o assunto.

Canal Afro e Afins de Nátaly Neri.

Texto Apropriação cultural é um problema do sistema, não de indivíduos” da revista AzMina.

E, como fiz nas redes sociais, convido vocês a comentar suas opiniões sobre o assunto. Gostaria muito de ouvir cada vez mais gente falando, pensando e, principalmente, ouvido pessoas negras sobre esse tipo de conteúdo. :)


a liberdade que oprime


a667836799f6054ad7f5f5058562b6b6Arte: Shiko (Derby Blue)

Qual é o problema de mostrar os peitos? Se os homens podem as mulheres também podem. As mulheres devem mostrar. E porque você não mostra também? Não vai mostrar?! Mas se for mãe tem que mostrar. Tem que amamentar em todo lugar. Quer cobrir com uma fralda? Não pode, tá errado. Claro que o parto vai ser na água, humanizado. O seu relacionamento é aberto, né? Monogamia é uma hipocrisia, todo mundo trai. Selinho não é gaia, e se for amigo também não é, né? Toda mulher fica com outras mulheres, que besteira. Vai dizer que você não tem vontade de um menáge. Voltar da festa antes de terminar? Nem amanheceu ainda. Você nem parece tão bêbada. Fuma maconha mas nunca cheirou pó? Que mentira. Todo mundo fuma. Todo mundo cheira. E daí que é dia de semana? Trabalhar é um saco. Você é escravo do seu chefe. Viciado em trabalho. Só pensa em dinheiro. É de direta. Cadê sua camisa da CBF? Não perde a hora do panelaço. E a dancinha do impeachment? Tudo coxinha. É de esquerda. Tem que ocupar a rua. Cadê o cartaz? Não vi seu textão ainda. Qual é o protesto do dia? Tudo mortadela. Protege os animais? Que mentira, nem compartilhou aquela foto. Sem coração. Não vai resgatar aquele gatinho? Não vai doar pro cachorrinho? Diz que gosta de bicho mas não é vegetariano. Diz que é vegetariano mas as come peixe. Devia andar de bicicleta, seu carro é a culpa do caos. Não sabe da última? Desconectado do mundo. Só vive na internet. Desconectado do mundo. Que mundo? Que mundo é esse.

O mundo onde a liberdade pode oprimir. Sabe quando éramos do crianças e sempre tinha aquele que te chamava de otário porque você não queria tomar uma cerveja? Porque não queria experimentar cigarro? Porque nunca tinha mentido pros seus pais? Porque não queria sair escondido? Mas todo mundo faz. O peso do “todo mundo faz” é enorme. Vivemos uma era de empoderamento linda, majestosa. Mas, como tudo nessa vida, tem o seu reflexo negativo. Um mundo onde as pessoas estão com seu direito de escolha cada vez mais livre, é justamente onde o julgamento vem diante dessa liberdade.

É difícil de explicar o que sinto sobre isso, eu acho. Mas gozando dessa liberdade de escolha em todos os níveis, julgamos e somos julgados o tempo inteiro por quem não faz as mesmas escolhas que a gente. Sinto inclusive uma disputa de quem faz mais, quem faz melhor. Isso não é liberdade. As motivações estão nebulosas, sabe? Algumas vezes não fazemos as coisas pelo nosso propósito, e sim para mostrar que estamos fazendo. Para contar pontos no placar do ativismo daquela causa que resolvemos seguir e ser os melhores nisso. E então começamos a perceber que o julgamento começa no nosso espelho, e transborda por todas as nossas relações.

Vamos aproveitar o tempo de liberdade para sermos, então, livres. Julgar menos os outros. Julgar menos a nós mesmos. Seguir ativistas pelas nossas causas e por aquilo que acreditamos. Seguir defendendo nossos ideais. Seguir respeitando aqueles que não são como nós, e que nem por isso são menos que nós.

Importante, para não haver qualquer mal entendido: machismo, misoginia, homofobia, racismo e todo tipo de preconceito ou violência não é liberdade e não merece ser respeitado. Merece sim ser julgado e exterminado da sociedade.



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