salar de talar, piedras rojas, lagunas e a natureza mágica
Depois da chegada nos tours do Valle de La Luna e o astronômico, eu resolvi fazer um full-day tour que ia levar a gente a uma altitude maior: mais de 4.000m. É o tour onde passamos pela Laguna Chaxa, Salar de Talar, Piedras Rojas, Lagunas Miscanti e Miñiques e o povoado de Socaire. É um tour lindo, longo, cansativo e cheio de surpresas.
Quem vive na selva de pedra e tá acostumado a ver gente levar passarinho pra passear em gaiola se impressiona com os animais silvestres soltos, né? Pois é, eu me impressionei e me emocionei com cada um que eu tive a chance de ver. Os primeiros foram os flamingos na Laguna Chaxa, onde chegamos pra tomar o desayuno com muito pão duro e café solúvel hehehe. Foi a primeira vez que eu vi os flamingos, e fiquei encantada mesmo sendo tão poucos e tão tímidos hehehe :) Achei massa que além de ver enquanto eles andavam e comiam pela laguna, vi alguns voando de um lado para o outro, foi lindo. Tava um frio da porra! Muito vento e ainda eram antes das 8h da manhã, e quanto mais cedo, mais frio faz nesse lugar. Então era muito chá e muito café pra tentar aquecer um pouco, viu?
Por saber que iríamos subir bem nesse tour, já comecei tomando chá de coca pra evitar passar mal. Além de que é recomendável que se coma pouco e beba muita água, que ajuda na oxigenação do sangue. Caminhamos um pouco por entre essas lagunas, e é impressionante ver a formação do terreno. Se eu fosse imaginar o solo da lua, seria assim. Umas formações de sal e pedra meio pontudas, quase agressivas, misturado com as lagunas e uma vegetação desértica. É lindo, lindo. Seguimos caminho.Durante esse tour nós percorremos um total de 270km entre ida e volta, e nesse percurso nós rodeamos o tempo todo o volcán Miñiques e temos a chance de vê-lo de diferentes ângulos. É lindo como parecem vários vulcões em um só. Nossa guia Nadia, a mesma guia do dia anterior, é uma apaixonada pela natureza, pela história e pela magia local, e ela falou com um amor tão grande por este vulcão que é impossível não sentir sua presença real. <3
Aí na foto de cima dá pra ver as vicuñas, que são parentes selvagens das lhamas. Sempre em bando, com um macho para várias fêmeas, a gente aprendeu a identificar quem é quem, vimos filhotinhos, vimos elas nos olhando e correndo de nós. Elas se alimentam desses arbustos e fazem longas caminhadas pelas montanhas. Fofas. <3A caminho do Salar de Talar e das Piedras Rojas, paramos no Trópico de Capricórnio (meu ascendente que tô torcendo que assuma logo esse coração que é mais canceriano que geminiano, socorro!) e pudemos ver o Camino Del Inca, que é essa pequena estrada ladeada por pedras, onde os caminhantes atravessam looongos quilômetros entre o Chile e a Bolívia. É impressionante ver o caminho sumir de vista para os dois lados, e nós no meio. É uma energia impressionante.
A primeira vista que temos do Salar de Talar é de longe, e essas suas montanhas parecem pintadas à mão! Suaves, macias, parece um contraponto com as duras montanhas e vulcões da Cordilheira dos Andes.
As Piedras Rojas são rojas mesmo! A cor avermelhada delas é linda e o formato, esculpido pela água e pelo vento parecem ondas que acabaram de ser derramadas. O vento aí é muuuuito forte, tudo é muito frio. Inclusive as águas da Laguna Aguas Calientes é muito fria hahaha Essa água transparente parece tão convidativa pra um mergulho, né? Mas só de molhar a mão achei que fosse congelar inteira hahaha :P E meu amigo Tim, o mesmo do tour de ontem, com sua vibe sensorial, que me fez colocar a mão na água e sentir que é salgada. :)
Aí a gente estava a mais de 4.000m acima do nível do mar e foi a primeira vez que eu senti os efeitos da altitude. Ao contrário de várias outras pessoas que passam suuuuper mal, eu só estava levemente bêbada. Não podia levantar a cabeça rápido que tudo rodava. Tava meio tonta e me sentindo super cansada. A orientação é sempre andar devagar, e com essa tontura parecia que eu tava andando na lua, passos altos, lentos e loucos hahaha :P A respiração funda é mais pra acalmar o coração, porque o ar não entra nem a pau. É babado.
As Lagunas Miscanti e Miñiques são mágicas. Além de parecerem uma pintura, têm uma história muito interessante. Elas ficam uma do lado da outra e antigamente elas eram uma lagoa só, enorme. Aí o vulcão Miñiques entrou em erupção e dividiu a lagoa em duas lagoas irmãs. Mas o mistério está nas diferenças entre as duas. Uma tem água doce e a outra água salgada, como pode? Uma é super rasa e a outra tem uma profundidade desconhecida. Uma tem pouquíssimos peixes, outra é rica em vida aquática. Diferentes tipos de pássaros frequentam cada uma delas, inclusive é por conta deles que não podemos nos aproximar das águas. E uma delas congela no inverno e a outra não.
As lagunas irmãs são tão diferentes e igualmente bonitas. Uma metáfora da altitude pra vida. <3Paramos para almoçar num lugar onde dava pra ouvir o rio passando, apesar de não dar pra ver. Entre pedras e uma vegetação rara, comemos nosso Rap10 com palmito, tomate, amendoim, milho e atum, além de mais café solúvel hehehe
Aí eu consegui me distanciar um pouco da turma e sentei de frente pra essa vista da foto aí de cima. Sentei, vi uns pequenos répteis e uns insetos estranhos, e consegui meditar um pouco. Muita natureza desse tour pra absorver, viu?Uma pausa na estrada para ver a lua nascer entre os vulcões <3 E pra observar um pouco do povoado de Socaire, que tem a agricultura como forma de sobrevivência. Imagina, né? Nesse solo, nesse clima, nessas condições, a vida vive e faz viver. Eita que eu tô é poética hahaha :P
Por fim, todos já exaustos e dormindo o tempo inteiro na van, o que também é culpa da altitude, paramos no povoado de Socaire. Lá tem uma pequena igreja, uma pequena praça, uma pequena lojinha de artesanato e grandes cactus. Esses enormes, que de tão grandes são usados como madeira em algumas construções, como nessa porta.
Essa capelinha aí é super antiga, não me lembro de quando, mas de antes da invasão dos espanhóis. Eles mantiveram ela, colocaram uma cruz e construíram uma igreja atrás para agradar os católicos invasores. Hoje ela tá assim, acabadinha, mas é um símbolo do povoado.
E depois disso, voltamos para San Pedro. É um tour que dura aproximadamente 12 horas, passa por essa quantidade de lugar lindo, onde podemos ver diferentes bichos, viver diferentes experiências visuais e sensoriais, e onde nenhuma foto vai conseguir traduzir o que vi, vivi e senti por aí.
Voltei meio derrubada pro hostel, onde conheci dois uruguaios super gente boa que estavam voltando da Bolívia. Saímos pra jantar juntos, encontrei uma sopa pra aquecer meu coração e capotei de sono depois. Tava precisando. O segundo dia foi ainda mais incrível que o primeiro, e o Atacama foi ganhando meu amor verdadeiro a cada minuto que passava. <3