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um pouco do sentimento de viajar sozinha


viajar sozinha(Em Recife, embarcando pra Santiago)

É impossível definir o que significa fazer uma viagem sozinha. Com 17 anos eu passei 2 meses estudando em Londres, e fiz muitas descobertas nesse período. Mas foi uma viagem de intercâmbio, ficando em casa de família e com uma ideia mais “planejada” do que fazer por lá. Além de todas as limitações da (falta de) idade. Eu já fui algumas vezes sozinha pro Rio e pra São Paulo, mas sempre pra encontrar alguém, algo meio certo do que fazer. Então, por vários motivos, eu posso dizer que essa foi a minha primeira viagem sozinha.

costanera center(Vista do Costanera Center, o prédio mais alto da América Latina. Em Santiago.)

O planejamento é massa.

Eu abri um monte de blog de viagem, li um monte de review no TripAdvisor, Booking, pedi dica aos amigos que já fizeram os roteiros, cascavilhei Google Maps, fiz planilha, mapa, um monte de coisa. Pedi a opinião de algumas pessoas mas, no fim das contas, decidi tudo sozinha. E isso consegue ser bom e ruim ao mesmo tempo. Algumas vezes eu só queria relaxar e pensar que alguém estava tomando conta da minha rota hahaha Mas é muito bom escolher fazer o que quer, quando quer, do jeito que quer.

A dica que eu deixo aqui é: não planeje tanto. Eu só tinha 22 dias, 3 países e um monte de medo das coisas darem errado. Então saí agendando tudo aqui do Brasil mesmo. Passagens, hospedagens, tickets principais (tipo Lollapalooza, tour Salar de Uyuni e Machipicchu). E quando eu tava na estrada eu vi que às vezes queria mudar um pouco do planejado e não podia. Bem como vi que algumas coisas a gente só descobre estando no lugar.

Por exemplo, eu queria fazer a Inca Trail, que é um hiking de 4 dias até Machupicchu, mas não sabia que tinha que agendar com 6 meses de antecedência. Aí fiquei bem frustrada quando vi que não tinha mais. O que eu não saquei daqui é que tem várias outras opções desse tipo de trilha (Salkantay Trek, Jungle Trail, e até os caminhos independentes), de diferentes dificuldades, duração, e envolvendo hiking, bike, rafting e outras modalidades. Aí, sem essa informação, eu agendei o trem (Inca Rail, por onde agendei, ou Peru Rail). A versão mais cara e mais careta de chegar até Machupicchu.

Além de que eu li em algum blog que eu precisava comprar logo meus ingressos pra Machupicchu porque se não corria o risco de não entrar no parque. E realmente quando fui comprar o calendário do site oficial (esse link aqui) dizia que para fazer Machipicchu + Huayna Picchu eu tava comprando o ÚLTIMO ticket do período que eu ia passar lá. Então pensei: PORRA, ERA PRA SER MEU! Outro motivo para sair feio doida agendando tudo, com medo de ficar sem fazer algo no meio do caminho. Só que quando cheguei em Cusco fiquei sabendo que é bem fácil agendar a ida pra Machupicchu por lá, que tem essas trilhas diferentes e que as coisas são mais fáceis do que eu imaginava.

No fim das contas, foi até bom ter ido de trem, pela quantidade de tempo que eu tinha. Então eu pude curtir mais Cusco foi uma delícia. Mas a dica de tentar planejar menos e deixar mais espaço pra resolver in loco ainda é válida.

salar de uyuni(A turma massa que se formou no tour do Atacama pro Salar de Uyuni.)

Você só fica sozinho se quiser. E você vai querer.

Claro que isso depende muito da pessoa, mas eu acho que a gente só fica sozinho quando realmente quer. Se tiver um mínimo de vontade de socializar, é bem fácil achar com quem conversar, comer, tomar uma cerveja, dançar, passear. Especialmente se você fica em hostel. Aí sim é quase impossível você ficar sozinho, só se esforçando muito. Mas posso garantir que se você tem medo de viajar sozinho, a solidão não será o seu pior castigo. Você vai ter várias companhias, vai conhecer várias pessoas, e talvez o difícil seja se despedir delas depois de poucos dias.

Mas, ainda assim, tente ficar sozinho. A gente quebra vários tabus que construímos ao longo da vida, especialmente sendo mulher. Sair pra comer sozinha, beber sozinha, dançar sozinha, fazer nada sozinha. É massa, especialmente estando num lugar diferente. Eu já moro sozinha e essa minha independência é algo que existe dentro de mim acho que desde sempre. Mas quando estive fora meus sentidos estavam mais aguçados, e agradeci muitas vezes por não ter ninguém do meu lado. Assim, pude ter meu tempo para absorver o que via, o que cheirava, o que pegava, o que comia, o que ouvia. Tudo. Aproveite, já que quando você está na sua rotina, na sua cidade, as coisas ao seu redor já te fazem uma companhia muito confortável. Então a dica é para você não tentar se manter ocupado o tempo todo para “passar essa solidão”. Aproveite. Você vai sentir falta de momentos de você com você mesmo.

casillero-del-diablo(Casillero Del Diablo, na vinícula Concha Y Toro, em Santiago.)

Seus demônios vão aparecer. Mas eles podem ser bonzinhos.

Cabeça vazia é oficina do diabo, dizem. E eu tenho que concordar. E apesar de achar que é quase impossível ficar com a cabeça vazia quando você está descobrindo um lugar novo, alguns dos seus demônios internos vão dar as caras. O medo, a insegurança, as armadilhas de “o que será que está acontecendo na minha ausência”, entre tantas outras coisas. Mas oh, o bom de saber que eles vão aparecer é que você pode deixar eles entrarem, chamar pra tomar um pisco sour ou uma taça de vinho e dizer que eles não te assustam. Que você está fazendo essa viagem sozinha não para combater essas questões, mas para aprender a ter uma vivência mais plena junto delas. Ninguém vive sem medo, sem dúvidas, sem um pingo de ansiedade. Então, já que é pra existir, que seja em paz esse convívio.

pau de selfie 2(Outros viajantes solitários curtindo seu pau de selfie, em Ollantaytambo.)

Vai ter pau de selfie sim.

Você pode achar ridículo, pode rir dos outros, pode ter vergonha, mas a real é que o pau de selfie é massa. Eu comprei um pra essa viagem e, enquanto eu tive celular (meu celular quebrou no meio da viagem, mas isso é assunto pra outro post), eu curti bem as fotos com o pau de selfie. É massa sair na foto sem aquele cabeção em primeiro plano. Além disso, ele pode ser uma mão na roda pra fotos em vistas panorâmicas e vários usos diferentes que você só descobre quando perde a vergonha de sair testando ele no meio da rua.pau de selfie 1(Eu curtindo meu pau de selfie no Cerro San Cristóbal, em Santiago.)

ponte inca machupicchu(Pedaço da trilha pra Ponte Inca, em Machupicchu.)

O seu caminho é você que traça.

Isso que eu digo é no dia a dia, além do planejamento da viagem. Por exemplo, eu fui trocar dinheiro em Santiago e resolvi sair andando por uma rua que achei interessante. Quando vi, tava na Plaza de Armas. Aí decidi que ia na Catedral, depois entrei no Museu Histórico Nacional e passei um tempão ouvindo a história do Chile. É massa ir seguindo o que você tá afim, ir mudando de ideia no meio do caminho, sem precisar esperar ninguém, consultar, ou andar agarrado feito corda de caranguejo. É você por sua conta.

Eu tava em Lima e resolvi que ia em busca de uma sobremesa tradicional do Peru. Andando no centro, passei por uma loja cheia de barril de chopp e de cerveja peruana artesanal na torneira. Claro que parei e que fiquei conversando sobre toda a produção de cerveja local com o garçon por um bom tempo. É o tipo de coisa que é bem mais fácil fazer quando se está sozinho.craft beer revolution(Espaço de cerveja artesanal peruana, em Lima.)

cusco(A vida acontecendo ao redor de um sítio arqueológico em Cusco)

Ter um diário é massa.

São muitas experiências novas o tempo todo, então especialmente se a sua viagem for longa ou se a sua cabeça não for muito boa (como é o meu caso), manter um diário é massa. No começo eu tava fazendo uns relatos em áudio no Whatsapp, pra mim mesma. Eu fiz um grupo com mais uma pessoa, e excluí a pessoa. Assim, eu tenho um “grupo” só comigo. Fiz isso a princípio pra gravar meus sonhos quando eu acordava, pra não me esquecer. Mas tem esse uso massa pra viagem também. Se for fazer isso, sugiro áudios curtos e, depois deles, tu escreve sobre o que foi e coloca uma setinha pra cima, por exemplo. Assim tu não se perde neles. Mas como fiquei sem celular, comprei um caderno e fui pro modo analógico. E foi beeem mais massa.

Que eu amo escrever não é nenhuma mentira, néam. Mas eu estou sempre escrevendo para os outros. Na real, eu sempre escrevi muito pra mim. Mas com o passar do tempo fui perdendo esse costume e comecei a escrever só para os outros. Sejam cartas, e-mails, bilhetes, textões, posts. Eu estava sempre escrevendo para compartilhar. O que eu sinto, o que eu vivo, o que eu acredito. E manter um diário escrevendo só pra mim foi um grande exercício de terapia e uma poderosa ferramenta de autoconhecimento. Inclusive, é algo que pretendo manter independente da viagem. É bem engrandecedor. Não é só escrever o que você fez no dia, mas como se sentiu, o que pensou quando viu algo, o que sentiu quando conheceu alguém, o que tá se passando enquanto você está escrevendo. Transformar esse diário num livro de sensações é bem mágico.

cusco cartazes(Cartazes de protesto em Cusco)

Experimente um tempo off.

Quando eu tava planejando a viagem, sabia que ia passar uns 3 dias sem sinal no caminho do Atacama pro Salar de Uyuni. Antes disso, tava falando direto com a galera daqui, amigos, família, namorado, fazendo posts no Instagram. Especialmente porque eu montei todo um esquema de guarda dos meus bichos, com o boy e mais amigos maravilhosos junto a um calendário com duas visitas por dia pra cuidar deles. Então eu também queria saber das notícias e tudo.

O que eu não sabia era que meu celular ia quebrar e eu ia ficar a maior parte da viagem sem contato com ninguém daqui, sem as notícias daqui, sem nada. A princípio eu tentei ver isso como uma mensagem para que eu me desconectasse. Mas, na verdade, era sobre estabelecer outras conexões. Não era só sobre o contato com as pessoas daqui, mas era sobre não abaixar a cabeça pra ficar vendo mapa, ou ter que falar com as pessoas até pra perguntar a hora. Você vive uma nova experiência. Difícil, claro. Mas bem enriquecedora. Então acho que vale experimentar, por vontade própria, se desconectar um pouco.

Eu não sei se consigo fazer uma lista de coisas que são massa em viajar sozinha. Ou de coisas que são difíceis, afinal, não são apenas flores. Mas acho que esse post é um bom começo. Eu tava aqui pensando em como começar a escrever sobre a viagem, se começava do começo, do final, de que parte. Então resolvi me aproveitar da primeira dica e ir fazendo sem planejamento.

Se você está esperando um roteiro da minha viagem, acho que não vai encontrar por aqui. Vou escrever alguns posts compartilhando um pouco do que vivi nesses 22 dias entre Chile, Bolívia e Peru. Mas não espere muito sobre custos, tempo, locais, horários, detalhes. Eu até posso colocar isso em alguns pontos pra dar essa força, mas meus relatos de viagem vão além disso. Ao menos, é o que eu espero.

Ah, e lembre-se: você nunca está sozinho, você está acompanhado de você mesmo. Seja uma boa e tolerante companhia, seja gentil e paciente com você. E lembre-se de agradecer sempre por ter você por perto e presente. É fundamental.lima de bici(Eu pedalando em Lima.)

No meu Instagram eu vou compartilhar algumas outras coisas com a hashtag #aresdaterra pra quem quiser acompanhar. Tem algumas coisas já, do momento que eu ainda tinha celular na viagem hahaha :P Agora vai ser só na retrospectiva. ;)

E se tiver algo que você queira saber mais específico, alguma dica para os próximos posts, comenta aqui. Vai ajudar na construção desse conteúdo. :D

Até a próxima parada. :*

pisco(Eu e o pisco, o pisco e eu, em um caso de amor durante toda a viagem.)


10 comentários sobre o assunto

Oh mulher, que delícia de relato. Uma condução pela mão com direito a afago de tão honesta e singela. Muito mais legal do que dicas técnicas – importantes – mas sem cor. Eu senti falta de notícias nas redes sociais, mas imaginei que fosse escolha consciente, pois escolha sempre é: seja do universo, do inconsciente. Pouco importa. O que importa é a resignificação que a gente é capaz de dar diante das intempéries da vida, das mais simples as mais complexas. A solidão, afinal, pode ser uma excelente companhia, mas eu concordo com o Alexander, do “Into the Wild” que diz que “a felicidade só existe quando é compartilhada”, e claro que na década de 60 ele não disse isso se referindo as redes sociais. Um xero

Sandryne

Filha simplesmente demaaaiiis! Show! Como tudo que você escreve/descreve!
Parabéns!
Quero ler mais, tá?
Te Amo
Beijos!

Cor Jésus

Encasquetei que queria conhecer a Noruega, e tenho férias (vencidas, muitas) bastante flexíveis. Meu marido tem férias extremamente rígidas, tem que ser 30 dias, tem que ser esse mês… E eu cheia de dias a gastar, resolvi que ia sem ele. Metade da chateação é a galera perguntando “Ai, mas ele deixa vc ir sozinha?”

Que porra deixar minha gente. Ele é meu companheiro de vida, não é meu controlador. Nunca sequer pensamos nisso e mais da metade das pessoas (sem exagero) me fazia essa pergunta.

Depois era “Mas não é perigoso?”. Galera, eu moro em SP e (tive a sorte?) nunca fui assaltada. Pq seria pior em qq outro lugar unica e exclusivamente por estar sozinha? Por acaso aqui eu vivo o dia todo com gente em volta? Não passo o dia todo sozinha nos trajetos que faço? Não me viro sozinha fora de casa e do trabalho?

Achei o celular um grande companheiro especialmente na questão do GPS, de pegar ônibus pra ir sei-lá-pra-onde e saber onde descer. Não comprei chip, internet só no hotel (nem, procurava wi-fi na rua) Pra ir sem ele acho que me sentiria mais confortável em um país onde eu dominasse a língua, e isso é pura desculpinha esfarrapada pq o inglês lá não me deixou na mão nenhuma vez.

Voltei me sentindo empoderada até pelo discurso, além da experiência. Veni, vidi, vici, e não, não tem essa de “ele deixou” e não, “não é perigoso ficar sozinha”.

PS: Prova maior da globalização é vc estar em um provador de loja de roupa no interior da Noruega e ouvir “choooooooooorando se foi quem um dia só me fez choooraaaar…”. Quando fui pagar comentei com a moça que fazia tempo que não ouvia e ela disse “É, velha, né? Aqui não é todo dia não, mas toca até que bastante.”.

Liana

Eita. Mó textão. Acho que isso que dá não ter feisse, se tivesse era só ter postado um link pra uma experiência passada. heheh

Liana

Ana Terra, icrivel como você define bem o prazer de estar consigo nesmo. O silêncio e ao mesmo tempo farfalhá dos pensamenos que borbulham sem censura e sem obrigação de conversas.
Compartilho com você a maravilhosa lsensação de liberdade de escolhá sem explicações ao pedir um prato em um restaurante ou decidir por um filme no cinema.

Amei ler você

Brunella

    Oi Brunella, tudo bom? Esse sentimento é uma nova descoberta a cada vez que ele surge, né? Boas descobertas pra você!

    Anna Terra

Terrinha, tudo bem?
Qual foi o bairro que você ficou em Santiago?

Larissa

    Oi Larissa, tudo bom? Coloquei o link do ap que fiquei no Airbnb, fica ao lado da estação Baquedano, que também coloquei o link do mapa aí no post. ;)

    Anna Terra

Ótima publicação e bom artigo. Todas as fotos são tão boas. Eu gosto. Obrigado por compartilhar.

Panchito Pantigoso

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