sobre vaidade, leveza e novos ventos
Toda vez que eu faço uma tatuagem nova é batata, mamãe fica surpresa como se fosse a primeira vez, papai com certeza torceu a cara e fez questão de não curtir nenhuma foto e os amigos e familiares mais conservadores ficam achando um absurdo, uma revolta contra alguma causa, uma afronta a sociedade. Mas, na verdade, é só uma vaidade. Já falei sobre isso aqui antes. Cada um tem a sua, e tatuagem é a minha. Acho lindo, tenho várias e quero fazer cada vez mais. Com ou sem cara feia das pessoas. Porque não é a cor do batom que eu uso, a tinta que boto nos cílios, as unhas que eu não pinto ou a tatuagem que eu faço que me dizem a pessoa que eu sou ou deixo de ser, só mostram um pouco da minha vaidade. :)
E a tatuagem é uma vaidade e tanto. Ela é pra sempre, ela tem seu significado nem que seja pra marcar o momento que foi feita. Ela carrega em si a força de um sentimento e isso é lindo. Tenho tatuagens de diferentes momentos da minha vida, de diferentes sentimentos, de diferentes fases. Esse ano faz 10 anos que eu me tatuo, e nesse tempo já mudei bastante. E se você me perguntar se eu me arrependo de alguma, eu vou dizer que não. Se você me perguntar se eu acho todas bonitas até hoje, eu vou dizer que não. Mas nem sempre a beleza da tattoo é o que mais importa, ao menos não pra mim. Ter o nome da minha mãe tatuado aos 17 anos, no apartamento de um amigo meu, por ele mesmo inexperiente e fazendo sua 2a tatuagem, ao lado de outro grande amigo que se tatuou no mesmo dia, é algo que eu nunca vou esquecer ou me arrepender. É parte da minha história, da minha vida, e vai estar comigo pra sempre.
E outro momento que eu nunca vou esquecer é esse, de soltar minhas amarras e ter coragem de embarcar em novos ventos. Só um misto de força e leveza são capazes de fazer isso com a gente. E essa minha tatuagem mais recente (além de linda) simboliza muito esse meu momento. E que eu tenha essa coragem sempre, de embarcar em novos ventos que soprem por aí.
Me tatuar um dia depois do meu aniversário de 27 anos, 10 anos depois de começar a me tatuar com Renato Mousinho, foi um misto de emoções. Foi o primeiro desenho da autoria de Renato que eu tatuei, e fui sem medo porque se tem uma pessoa que eu confio de entregar a minha pele é ele. Muito ele fez direto na pele, sem eu ver. Todas as sombras, as linhas da cestinha, tudo direto na agulha e eu só na felicidade.
Aproveitando os dias finais de folga antes da mudança definitiva de agência, consegui um horário na super disputada agenda dele. Chegando toda feliz e saltitante no estúdio, quando ele ia tirar a cópia pra ampliar o desenho PAM. Faltou luz na rua toda. Eu pensei que por um lado foi bom, porque não tinha começado a tattoo ainda… Mas eu fiquei com medo de não voltar a luz, de não dar tempo, de me frustrar e ficar super triste de não fazer a tattoo. E passou meia hora, uma hora, duas horas. Eu fiquei lá esperando, no calor, no sono, na agonia. Mas um pouco mais de duas horas depois, a luz voltou! E eu subi correndo as escadas pra saber se dava tempo de fazer antes da próxima sessão que tava marcada. E Renato viu a empolgação e disse: a prioridade hoje é a senhora!
E começou sem dó nem piedade, riscando e ferindo e doendo, e eu sorrindo. Tudo bem que depois de 2 horas o sorriso meio que foi embora, mas a felicidade não. Mesmo atrasando mais de uma hora a sessão do moço que esperava do lado de fora pra tatuar o pé do seu bebê, Renato terminou tudo e o resultado não podia ser melhor. Esse balão lindo, perfeito pra marcar esse novo momento, esse novo vento, esse recomeço.
Obrigada. Obrigada todos que fizeram parte da jornada. Obrigada todos que fazem parte dos novos ventos. Obrigada Renato como sempre. Obrigada.