o que eu pensei em dois dias de “solidão”
No domingo de manhã cedinho Paolo viajou para o sertão da Paraíba, foi fazer umas fotos para um trabalho lindo que vai sair em breve. Vai ficar por lá até hoje de manhã, quando pega seis horas de estrada de volta pra casa. Não é a primeira vez que a gente fica alguns dias longe depois que casamos, mas acho que esse tempo chuvoso e a minha tpm me fizeram ficar um pouco mais pensativa.
No domingo eu saí com minha mãe e minha irmã, caminhamos na praia, pegamos chuva, um delicioso programa de família. Voltei pra casa perto da hora do almoço e tentei resolver umas pendências, sem sucesso. Fui tomada pelo sono, pela preguiça e pela vontade de passar logo o tempo. Então terminei pegando no sono e dormindo mais do que devia. Resultado, acordei quase de noite e passei a madrugada acordada. Pensando.
Tentei organizar a palestra que vou dar hoje, mas não consegui me concentrar. Minha cabeça tava um turbilhão de pensamentos carentes e tristes. Então deitei na cama, me agarrei com Chica e fui ver um seriado até adormecer.
E o que tanto eu pensei?
Pensei em como eu amo Paolo e em como ele me faz falta. Porque muitas vezes ficamos cada um no seu computador, concentrados cada um no seu trabalho, sem dar uma palavra. Mas eu sei que ele está aqui do meu lado. Que eu posso dar um beijo nele a hora que eu quiser. Que eu posso largar o teclado e dar um abraço, sentar no colo dele e pedir um carinho. Sei que mesmo que eu vá dormir sozinha enquanto ele continua trabalhando, uma hora ele vai deitar ao meu lado e quando eu acordar no meio da noite ele vai estar lá. E essa presença dele me acalma, me tranquiliza, me protege. E quando eu penso que isso são sinais de um amor maduro, eu lembro que ele vai chegar hoje e meu coração dispara como uma adolescente.
Pensei que eu não gosto de cozinhar só pra mim. Estou com a geladeira cheia de coisas recém compradas, verduras e legumes orgânicos da melhor qualidade, aquela variedade que só aparece em casa nos dias logo após a feira. Mas nada me apetece. Não tenho vontade de cozinhar. Nem de comer, o que me pareceu bem estranho. Já que geralmente eu fico com vontade de comer o mundo, principalmente se ele estiver coberto de chocolate.
Pensei muito na minha mãe. Que não teve apenas duas noites sozinha com sua cachorra dentro de casa. Teve nove anos inteiros sozinha criando uma bebê que crescia. Eu. Nove anos de noites de chuva, sozinha com uma criança. Há 24 anos atrás, sem internet, sem celular, sem grana. Nove anos trabalhando fora e chorando por encontrar a filha dormindo ao voltar pra casa, e não poder perguntar como foi o dia dela. Mesmo quando ela mal sabia falar. Nove anos de Dia da Mulher comemorados só comigo. Eu com a mulher da minha vida, ela com a menina da vida dela.
Pensei muito na minha mãe. Que ainda teve tantos pares de noites sozinha entre minha adolescência e a infância da minha irmã. Uma solidão que duas pequenas meninas tentavam amparar. Depois eu saí de casa, e deixei minha mãe e minha irmã sozinhas, uma para a outra. As vezes eu penso nisso da forma mais triste possível. Me culpo até, por ter seguido o caminho da independência que minha mãe sempre me ensinou. Acho que é a chuva.
É por isso que esses dias sozinha não passam de uma “solidão” com aspas bem grandes. Porque as vezes tudo que a gente precisa é de umas noites sozinha, para pensar melhor na vida. Para entender melhor algumas coisas. E para amar mais algumas pessoas, se é que é possível amar ainda mais minha mãe, minha irmã e o homem da minha vida.
Eu não sei o que é solidão de verdade, mas foi nisso que eu pensei nesses dois dias.