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carnaval não é bagunça


carnaval 2017 5Meu carnaval a cada ano que passa consegue ser mais especial. O carnaval de 2017 foi incrível pra mim, e cheio de coisas diferentes. Mesmo estando na mesma cidade, ouvindo as mesmas músicas, encontrando as mesmas pessoas, foi diferente. Primeiro, porque eu estou diferente. Não sou a mesma de ontem, quem dirá do carnaval passado. Segundo, porque vivi detalhes diferentes que fizeram dos meus dias super especiais.

carnaval 2017 6

Foto: Gabi Lobo

Fiz minhas fantasias! Não é ter a ideia e mandar fazer. Não é ter a ideia e comprar as coisas e juntar num look. Não é ter a ideia e customizar uma peça ou outra. EU FIZ AS FANTASIAS! E isso me deu um orgulho (e um trabalho!) tão grande! No sábado eu saí de arara, com minhas asas coloridas que eu fiz durante dias, usando um maiô que eu decorei com brilhos pedrinha por pedrinha, um penacho alto na cabeça que eu montei pensando: só perde essa arara de vista quem quiser! Até os brincos eu fiz. :) Estava me sentindo a pessoa mais linda das ladeiras. E quem vinha me elogiar eu dizia: TÔ DEMAIS, NÉ?! E segui batendo as asas e distribuindo sorriso das 11h da manhã no Trinca de Ás até depois do Homem da Meia Noite. Fui para blocos que eu nunca tinha ido, deixei de ir para blocos que eu vou há anos, fui pro show de Orquestra Contemporânea de Olinda e depois de Eddie com Karina Buhr e Isaar que nem esperava ir e foi incrível, encontrei e reencontrei pessoas amadas por onde passei. Oh jeito bom de começar o carnaval!

carnaval 2017Foto: Rafael Medeiros

bloco dos sujosNo domingo, o dia que geralmente eu tô passando mal por conta do dia longo do sábado, juntei minhas forças e fui prestigiar o bloco do boy com um aviso: use uma roupa que pode sujar. Então o look foi nada de mais. Um pedaço de chita que ganhei num presskit e virou uma saia e um top hehehe :P O Bloco dos Sujos não decepcionou. Depois da distribuição dos tradicionais pitulés, o percurso geriátrico evitando os maiores empurra-empurra das ladeiras foi massa. Depois de ser julgada por querer tomar um banho, fui suja mesmo pro já tradicional no meu roteiro: a festa do I Love Cafusú. Que festa arretada. Quanta dança, quanto sarro, quanto beijo, quanta gente querida.

carnaval 2017 2Foto: Bora Mago

pessoal da igreja Foto: Clara Gouvêa

vaca profana 2Foto: Antônio Leão vaca profana Foto: Iris Baccaro

A segunda era o dia mais esperado por mim. O dia de desfilar com blocos que ajudei a fundar, com blocos dos amigos, o dia de encarar Olinda de peito aberto e nu. O dia de mostrar que a união faz a força e juntar o Bloco Femmi Vaca Profana, Pessoal da Igreja, Bora Mago e O Sol Tá Massa num desfile único, regido por uma orquestra formada por 20 mulheres. O dia de me juntar a mais de 50, talvez 70 (será que 100?) mulheres com os peitos de fora gritando que MACHISTAS, FASCISTAS, NÃO PASSARÃO! Dançar vestida de glitter, com amigos e amigas fazendo um cordão de isolamento humano para nos preservar daqueles que não entendem o que significa MEU CORPO NÃO É UM CONVITE. Uma união não só de blocos, mas de pessoas que estão aqui para fazer uma revolução. Para cantar junto, para dar água, cerveja, batida, beijo, força, voz. Foi um dia épico, histórico. Feliz demais em ver tanta gente querida se juntar querendo fazer a diferença. Querendo mostrar que carnaval não é bagunça. É cultura, é política, é a vida da gente.

Neste dia eu não só desfilei com as meninas, mas tive a oportunidade de ouvir coisas que realmente fizeram a diferença na minha vida. Ouvi “Terrinha, eu aprendo muito com você.”, ouvi que “Você é uma mulher que eu respeito e que quando abre a boca eu faço questão de parar pra ouvir.”, ouvi que “A parte mais bonita foi quando você foi agradecer de um por um que estava no cordão, quando a gente que queria agradecer a vocês que estavam dentro dele.”, ouvi “Isso é importante pra mim, que como homem que errei demais, sei que posso aprender com meus erros e com vocês.”. Ouvi tanta coisa linda que nem sei contar. Foi, sem dúvidas, o dia mais do que emocionante e que vai ficar marcado na minha vida pra sempre. E ano que vem tem mais. E vai ter mais mulher. E vai ter mais homem. E vai ter mais gente, que é isso que importa. Vamos todos que juntos somos mais fortes. Depois disso, só um belo show de Otto no Pátio de São Pedro pra fechar o dia com chave de ouro. Que dia!

carnaval 2017 3Na terça-feira foi difícil pegar no tranco. Ainda absorvendo tudo que foi a segunda, foi dia de ir mais tarde pra Olinda e começar com um show de Academia da Berlinda pra acordar os músculos. Eu e minha roupa de pranta, com uma Catuaba Selvagem debaixo do braço, desfilamos pra cima e pra baixo. Foi muita pranta, viu? Fiz arranjo pra cabeça, brinco, arranjo para os braços, fiz o busto, a saia, e tome pranta. Costurei, colei, amarrei, enrolei e adorei o resultado. :) Não saí do tradicional vermelho e amarelo da terça,  apesar do objetivo do dia ser mesmo ir atrás do Eu Acho É Pouco, que é bom demais. Como eu não tinha visto no sábado, fiz questão de acompanhar o dragão com seu gigante FORA TEMER estampado. E teve gente gritando FORA TEMER o carnaval todo sim. E teve gente reclamando de quem gritava FORA TEMER sim. E tem que ter tudo isso. Porque a voz da gente também ecoa no carnaval. Não só nele, assim como não só no Facebook, não só no sofá, não só na internet. Mas também. Então, por isso, tome mais um: FORA TEMER!!!

O EAEP, tão tradicional, teve que mudar de rota por conta de um acidente com um caminhão. E até isso fez a diferença. Tudo nesse carnaval tava mesmo pra ter alguma mudança. Especialmente inesperadas mudanças. E foi lindo do jeito que foi. Foi especial do jeito que foi. Inesquecível do jeito que foi.

Carnaval não é bagunça. Carnaval é uma energia muito forte envolvida. Trocamos muita coisa nos encontros, nos beijos, nos abraços, nos discursos. A fantasia do meu ideal não é bagunça. E ano que vem tem mais coisa séria pra gente mostrar, fotografar, sorrir e chorar. Carnaval doismiledezessete, você foi foda. Obrigada. <3

P.S. Algumas fotos estão ruins porque foram tirados prints do celular assim que foram publicadas no Instagram, já que logo em seguida elas foram apagadas pela plataforma por conta da nudez. Então, quem tiver fotos legais dos blocos, manda pra mim! :D 


8 motivos para usar o coletor menstrual


Desde fevereiro deste ano que eu uso o famoso copinho, o coletor menstrual, e minha vida passou por uma revolução. No começo, eu fiquei me sentindo uma vendedora de Herbalife ou coisa assim, meio que catequizando as pessoas, meio monotemática, era um tal de “Oi Terra, bom dia!” e eu “Bom dia miga cê usa o coletor menstrual porque olha senta aqui…”. E a cada ciclo, ou cada vez que eu vou fazer feira e reparo que a gôndola de absorventes (e de desodorantes!) não me pertence mais, eu tenho vontade de contar pra mais gente sobre como incrível é o copinho.

Então, reuni aqui alguns bons motivos pra você mulher maravilhosa, usar o coletor menstrual.

coletor-menstrual

1. Intimidade com seu próprio corpo

Quando eu vou falar sobre o coletor menstrual, algumas mulheres fazem cara feia sobre “ter que pegar o sangue”, “ter que enfiar a mão” e essas coisas. Então vamos lá. Primeiro, seu sangue não é sujo. Não faz cara feia, amiga. Não vem com “eca” pra algo que é natural seu, é sagrado, é real. Você sabia que o sangue não tem cheiro? Pois é. Aquele “fedor de menstruação” que você sente é culpa do absorvente, que faz o sangue entrar em contato com o oxigênio e ainda abafa geral lá embaixo. O que dá o cheiro é isso. O sangue no copinho não tem cheiro. Pode tirar e levar direito ao nariz, sem nojinho, que tem cheiro de nada.

Não tenha vergonha/ medo/ nojo/ dúvida de se tocar. Algumas mulheres não se tocam mais do que na hora de esfregar o sabonete ou de passar o papel pra se limpar. Tem que se tocar, miga. Tem que se conhecer. Tem que se dar prazer, mas aí é assunto pra outra conversa. ;) Quando você se toca para colocar o copinho coletor você aprende mais sobre o seu corpo e esse tabu de vagina/ buceta/ ppk/ menstruação vai se dissolvendo até sumir.

Além disso, você começa a conhecer melhor o seu fluxo, sabia? Já ouvi de gente que diz que não tem coragem de usar o copinho porque só usa absorvente noturno e que o fluxo vai encher rapidamente e tal… Gente, não apavora. Faz o teste primeiro. Mesmo que você faça o teste com absorvente também, pra garantir. Mas é um momento de descobrir o real volume seu fluxo, e que ele pode não ser tão grande quanto você imagina… Quando ele espalha no absorvente parece ser um rio, né? No copinho é outra coisa. Vai por mim.

2. Economia

Você já fez as contas de quanto gasta com absorvente? Bem, eu fiz uma conta de padaria. A cada mês eu gastava uns 2 pacotes de absorvente que custavam em média R$6 cada um. Em um ano, eu gastava em média R$144 reais em absorvente, fora quando precisava comprar um OB pra ir à praia, aqueles que a gente distribui pras amigas, enfim. Pode parecer pouco, mas quando você compra um copinho que custa em média R$80 e pode durar entre 5 e 10 anos, você entende o tamanho da economia, né?

3. Conforto

Minha gente, tem coisa mais incômoda do que absorvente? Sério mesmo. Não interessa se é fino, com abas, sem abas, anatômico, não rola. São dias seguidos que você passa com aquele incômodo no meio das pernas. Percebi que às vezes a gente até acostuma, mas quando tira você vê o real incômodo que sentia. Você não sente quando está usando o coletor. Sério. Às vezes eu tenho que ir no banheiro dar um check pra saber se eu realmente coloquei o copinho antes de sair de casa, de tão anatômico que ele é. Além do conforto pra usar um biquíni, pra dormir sem calcinha, pra usar rouba sem se preocupar se tá marcando o absorvente, nada disso!

4. Praticidade

Praticidade é a palavra de quem não tem tempo a perder, né? Então nada de ter que ficar indo no banheiro de instante em instante pra trocar o absorvente. Você pode passar até 12h com o coletor, dependendo do seu fluxo. E se precisar tirar é só higienizar bem as mãos, tira o copinho, esvazia, lava com água e sabão neutro e pronto, tá ótimo pra botar de novo. Aí a cada ciclo você pode ferver ele numa panelinha esmaltada, ou até no meio do ciclo se você quiser.

Também é super prático fazer xixi sem sangue, né? Aqui pra nós. E com o copinho o sangue fica presinho lá de boas. Sabe quando você tá na rua e não tem papel no banheiro, então você dá aqueles pulinhos e veste a calcinha? Menstruada não rola, né? Mas com copinho rola! Você pode fazer seu xixizinho em paz, limpar com o papel normalmente (se tiver) e pronto! Quantas vezes você precisar até a hora de tirar o copinho pra esvaziar e higienizar.

5. Higiene

Algumas mulheres que têm nojinho do contato com seu próprio sangue, não sabem que sujo mesmo é o tal do absorvente com seu sangue exposto, seus odores e aquilo tudo.O copinho é feito 100% de silicone e fica totalmente dentro do canal vaginal. Ele é muito limpo e a manutenção desta limpeza é super fácil (água e sabão neutro cada vez que tirar e ferver por 5 minutos em panela esmaltada no início e no final de cada ciclo).

6. Saúde

Bem, como eu já disse ali em cima, não tem isso de sangue exposto, de abafar a vagina, nada disso. O coletor é bem mais higiênico que o absorvente. As bactérias gostam de se proliferar em lugares úmidos e quentes, ou seja, seu próprio absorvente.  A maioria das mulheres que têm recorrência de candidíase e outras doenças causadas por fungos e bactérias, podem se beneficiar com o uso do copinho na sua prevenção.

7. Meio ambiente

Além de todo benefício pessoal, também está em tempo de pensar no planeta, né? Já pensaram na quantidade de lixo que geramos com os absorventes? Pois é. E eles demoram mais de 100 anos pra se decompor na natureza. Agora pensa nessa quantidade de mulher menstruando, trocando absorvente umas 10x por dia, e jogando (além de dinheiro) muita sujeira na natureza. O copinho é reutilizável e pode durar de 5 a 10 anos! Faz as contas aí de quantos absorventes tu não vai jogar no lixo e vai somando aí na tua matemática das vantagens.

Ah, e sabe uma coisa massa? Mas aí é pro meio ambiente na nossa casa, do nosso jardim hehehe :P O sangue é um fertilizante natural para as plantas! Então, se você quiser, pode despejar o conteúdo do seu copinho na suas plantas e ver como elas vão ganhando um up, ficando mais vistosas e felizes. Pois é, nosso sangue é sagrado e carregado de vida, meninas. :)

8. Liberdade

Pois é, migas. A verdade é que a sensação é de liberdade. De botar biquíni, de praticar esportes, de ficar só de calcinha ou sem ela, de não ter que andar com absorvente pra cima e pra baixo como uma muleta, de ter que ficar caçando aquele banheiro maneiro toda hora, de ter que ficar indo na farmácia comprar absorvente, ter sempre um em cada bolsa e um estoque em casa ou no trabalho, enfim… É a liberdade em sua diferentes facetas. Inclusive, a liberdade de conhecer o seu corpo, de falar sobre ele, de entrar com os dois pés na luta contra a menstruação como tabu. Vamos ser mais livres. <3

Claro que tudo tem seus prós e seus contras, né? Nada é 100% flores. Eu já tive amigas que não se adaptaram ao copinho nem a pau, que ficaram incomodadas, que sentiram cólicas, que disseram que sempre vaza, enfim. Nunca será para todas, infelizmente. Mas vale experimentar. Vale o teste. Vale insistir um pouco mesmo quando tiver dando errado. Os benefícios são muitos!

Procurem mais na internet sobre os coletores menstruais, vejam detalhes de como botar, de como tirar (tem gente que se desespera por não conseguir tirar o vácuo e acha que o copinho tá preso), da possibilidade de cortar a haste para ficar mais confortável, de como saber se fez o vácuo, se vazar, enfim. Leiam mais, procurem outra opiniões, mas não deixem de testar vocês próprias. Vale o investimento de R$80 ou R$90 reais para um teste que pode mudar a sua vida, sem exageros.

Para quem é do Recife, eu comprei o meu no Copinho de Lua, com a querida e atenciosa Scharlene Guedes. Que além de entregar gratuitamente em alguns lugares da cidade, também compartilha informações, presta suporte e é uma simpatia de mulher. Dessas que sentem o maior prazer em ver as outras mulheres se empoderando.

E vocês, querem compartilhar suas experiências e observações sobre o copinho? :)


o que eu aprendi sobre apropriação cultural


“Ah mas quem é você mulher branca classe média pra falar em apropriação cultural?!”

Calma, migas. Eu não vim cagar regra sobre o que é ou deixa de ser apropriação cultural. Eu só vim compartilhar um pouco do que eu aprendi sobre o assunto, depois de abrir uma discussão bem saudável em um post no meu Instagram e Facebook. Até então, o que eu tinha lido e ouvido das pessoas sobre isso era bem superficial, algo tipo “é da minha cultura e você não pode usar”. Mas não é isso, o buraco é bem mais embaixo. Mal comecei a escrever o post e já sei que ele vai ficar enorme e talvez cansativo. Mas eu te convido a vir comigo, baixar a guarda, e tentar absorver um pouco (bem pouco) do muito que é esse assunto.

turbante e apropriação culturalFoto: Victor Jucá

Fui passar uns dias no Festival de Inverno de Garanhuns, e em um dos dias eu resolvi sair de turbante. Gosto de usar, já usei várias vezes em Recife, acho lindo e, de quebra, aquece minhas orelhas no frio de lá. Recebi alguns elogios de como estava bonita a amarração que eu fiz, recebi uma crítica velada de uma amiga perguntando se eu tinha virado negra empoderada pra estar usando o turbante, mas o que mais me impressionou foi um grupo de mulheres negras que passaram e gritaram algumas coisas pra mim. Eram coisas tipo “esse nó na cabeça é algo muito mais importante do que você imagina” e alguns outros comentários que eu mal ouvi mas que sei que foram proferidos de forma agressiva. Eu confesso que fiquei bem triste com isso. Mas sei que por trás desse tapa que eu levei, haviam argumentos que eu não poderia alcançar sozinha. Por isso, postei essa foto pedindo a opinião das pessoas sobre o assunto e recebi os mais diversos feedbacks. Vou tentar organizar aqui a linha de pensamento pra gente começar.

Primeiro, eu sei que o lugar de fala é das mulheres negras e que a gente deve ouvir e absorver as informações. Eu acredito que todos podemos expressar nossas ideias e opiniões sobre isso, pois só crescemos debatendo, mas o que não podemos é julgar ou pormenorizar o que for dito por elas sobre este assunto.

Aprendi que não é sobre indivíduos, é sobre sociedade. Não podemos individualizar a discussão. Então não vamos aqui falar de casos isolados e nem vir com argumentos de “mas eu não sou assim…” ou “mas comigo é diferente…”. Não é sobre você, não é sobre mim, é sobre a sociedade na qual estamos inseridos. E, como todo caso, vão existir excessões. Mas aqui vamos falar do geral que é o que importa.

Aprendi que não é só sobre cultura, mas sim sobre a relação de oprimido e opressor. Ou seja, brancos são estruturalmente opressores, e negros são oprimidos. Não interessa se você é uma pessoa branca e diz que não é racista. Só por ser branca você está montada em um castelo de privilégios, quer você queira ou não. É como a relação de homens opressores e mulheres oprimidas. Não interessa se o homem é gay, militante LGBT, defensor de todas as causas feministas. Ele é homem e a sociedade aceita mais ele do que aceita as mulheres. Então a relação aqui é essa. Não vamos levantar a guarda e dizer “mas eu não sou opressora” porque, como disse acima, não é sobre você. É sobre a sociedade.

Aprendi que não é uma via de mão dupla. Não é apenas o trânsito de uma cultura pra outra. Isso pode ser uma troca. No entanto, exatamente por ser uma relação de privilégio envolvendo raça, classe ou religiosidade, que o uso de determinados símbolos por uma cultura dominante pode promover o esvaziamento dele para a sua cultura de origem. Ou seja, quando brancos usam símbolos afro, esses símbolos vão perdendo o seu sentido e o seu uso vai sendo deturpado. Quando um negro usa um símbolo de branco, não será esse seu uso que vai mudar o significado do símbolo. Exatamente porque o branco é dominante e tem esse poder de promover e alterar o sentido das coisas.

Aprendi que não é sobre quem inventou o turbante, quem usa primeiro, que cultura é “dona” de tal acessório. Então, não adianta vir com aula de história falando de onde surgiu o uso do turbante e o significado dele em cada sociedade. Estamos no Brasil e aqui a nossa cultura é negra, não é árabe, sabe? Se você é branco e é do candomblé, massa. Se você é branco e de família árabe, tudo bem. Mas você é minoria e aqui voltamos á pra cima: não é sobre indivíduos, é sobre sociedade.

Aprendi que não é sobre liberdade de usar/ fazer/ falar o que quiser. E também não é sobre proibir. É muito fácil falar que somos livres para fazer o que queremos quando, na verdade, a liberdade do outro pode nos oprimir. Os homens são livres pra falar o que quiserem para as mulheres? Mulheres são livres para falar o que quiserem para gays ou trans? Podemos sim falar o que quisermos, mas isso tem um peso e um preço. Então, aprendi que aqui é sobre fazer escolhas e sobre bom senso. Ninguém vai te proibir de nada, mas você é responsável pelos seus atos.

Aprendi que também é sobre empatia. É sobre tentar se colocar no lugar do outro, apesar de que nós privilegiados nunca vamos saber a dor e a luta de quem é oprimido, mas podemos tentar imaginar os seus incômodos e pensar o que podemos fazer para evitar ou minimizar essa dor. Essa relação começou a fazer muito mais sentido pra mim. Pensar no uso do turbante pela ótica da sororidade.

Aprendi que não é sobre a intenção de machucar. Quem pisa no pé do outro sem querer também precisa pedir desculpas, né? Afinal, você não quis, mas machucou a outra pessoa. E essa pessoa pode te desculpar, mas a dor dela não vai passar por isso. Então, mesmo que você não tenha a intensão de machucar, você vai terminar fazendo isso.

Aprendi que a sociedade gosta dos ícones negros, mas não gosta dos negros. Quando eu li isso me caiu um peso enorme nas costas. Porque estamos falando de símbolos de resistência e de luta que a sociedade ainda não aceita. Aceita em mim, que sou branca. Mas não aceita na preta, que continua sendo xingada na rua.

Aprendi que, na verdade, eu não fui xingada pelas mulheres negras que gritaram pra mim em Garanhuns. Elas não estavam falando comigo enquanto indivíduo, estavam gritando por uma sociedade branca que as oprime e que esvazia o sentido dos seus símbolos. E quando lembro da máxima “não podemos confundir a reação do oprimido com a violência do opressor“, tudo faz sentido pra mim.

Aprendi que, mesmo que eu defenda que temos uma sociedade para educar nas questões raciais, de gênero, de classe, e que só se educa com diálogo e com carinho, não foi assim que a sociedade foi construída. Sempre digo que na gritaria ninguém se entende, e tento com todas as minhas forças estabelecer diálogos sérios e sóbrios nas questões que envolvem machismo e feminismo, sem gritar para responder uma agressão. Mas diante de anos e séculos de opressão, não posso julgar a atitude de quem agora pode esbravejar para que a sociedade enxergue e respeite sua classe.

Aprendi que eu não preciso concordar com todos os argumentos que eu aprendi, mas também não posso julgar. Não é meu lugar de fala e não sou eu que vou tachar de “extremismo” ou dizer que é uma reação exagerada. Um homem não pode dizer que feminismo é extremo demais, então também não posso dizer isso das mulheres negras. Não tenho como me colocar no lugar do oprimido.

Aprendi que apesar de ser sobre sociedade e não sobre indivíduos, não é algo generalizado. Não são todas as mulheres negras que se incomodam com o uso do turbante e de outros símbolos por mulheres brancas, e que mesmo que se incomodem, muitas vezes não expressam isso. A minha foto do perfil do Facebook sou eu de turbante, e muitas as mulheres que comentaram que eu estava linda, que tinha arrasado e tudo mais, quando eu questionei sobre o uso do turbante tempos depois se colocaram contra. A maioria das mulheres negras que eu já tinha conversado antes de abrir o questionamento disseram não se importar, inclusive, são elas que trançam os cabelos das brancas, que ensinam as amarrações de turbante e pulverizam a utilização de outros símbolos pela sociedade.

Aprendi que a indústria da moda é muito mais cruel do que se pode imaginar. E a crueldade não está só na objetificação dos corpos, na imposição de um padrão de beleza quase inalcançável, mas também no esvaziamento do sentido de símbolos de luta e resistência, como turbantes, estampas afro e tantas coisas que a sociedade nunca aceitou em pretos e agora aceita em brancos.

Aprendi que não podemos julgar a ignorância social das pessoas. Muita gente não está por dentro dos debates sobre feminismo ou apropriação cultural ou outras lutas, sabe? Não podemos crer que, porque nós somos privilegiadas e temos acesso à informação, outras pessoas também tenham. Não podemos esperar que qualquer pessoa que sai na rua sabe exatamente que o que está vestindo ou falando tem um significado muito diferente para outras pessoas.

Aprendi que não será o fato de Anna Terra, indivíduo, mulher branca privilegiada de classe média, usar ou não usar o turbante que vai fazer diferença para a sociedade. Mas que, ao usar, eu não tenho como carregar uma placa dizendo “manas negras, eu entendo a luta de vocês e não estou usando isso para agredir, mas porque eu valorizo e compartilho dos seus ideais“. E que antes eu preciso pesar se a minha vontade de usar vale mais que a dor que eu posso causar em uma mulher negra militante.

Aprendi que, apesar de eu ter aprendido tanto, ainda não consegui formar uma opinião muito concreta sobre isso. Mas que consegui reunir muita informação válida sobre o assunto e que meus atos agora serão muito mais esclarecidos e pensados.

Aprendi também que tenho amigxs maravilhxs e muito pacientes para compartilhar suas ideias e explicar direitinho seus argumentos. Muito obrigada! <3

Aprendi muito mais ainda vendo esse vídeo, que convido vocês a assistir e refletir sobre.

Além disso, vou linkar aqui algumas outras referências bem interessantes sobre o assunto.

Canal Afro e Afins de Nátaly Neri.

Texto Apropriação cultural é um problema do sistema, não de indivíduos” da revista AzMina.

E, como fiz nas redes sociais, convido vocês a comentar suas opiniões sobre o assunto. Gostaria muito de ouvir cada vez mais gente falando, pensando e, principalmente, ouvido pessoas negras sobre esse tipo de conteúdo. :)


já que é pra trintar, trintei.


trintinha 145Eu estava ansiosa pelo meu aniversário de 30 anos como eu acho que nunca fiquei. Não sei bem porque, mas senti que realmente era uma festa de ano novo. E foi por isso que resolvi fazer uma festa mesmo. Aproveitei que meu irmão tá no Brasil e meu pai arrastou a família pra Recife pra comemorar comigo. Então pela primeira vez em alguns bons anos, reunimos novamente meu pai, minha mãe e meus irmãos no mesmo balaio. Tinha mesmo que comemorar.trintinha 11

Fiz a festa no quintal da Casa 57, um espaço massa onde tem o Café e Atelier da Gordinha e a loja da Vitalina. A casa é linda e acomodou carinhosamente todos os convidados. Para o dia, fiz uma decoração simples. Como fiz tudo praticamente sozinha, não tive tempo livre pra fazer muito mais do que isso hehehe :P Escolhi o vermelho de amor e da luta pra ser a cor da festa, e a partir daí fui juntando umas coisas.trintinha 2 trintinha 3 trintinha 5trintinha 10trintinha 1

No teto, pendurei 30 estrelas, essas que ensinei como é que faz nesse post aqui. Na entrada fiz uma cortina de corações, que são super fáceis de fazer também. A dica tá aqui. Além disso, pintei alguns cartazes com frases que eu compartilho da ideologia, e deixei pendurados pra quem quisesse pegar pra tirar foto. Nas mesinhas eu fiz um arranjo super simples com o origami de coração que eu sempre faço, e inclusive é a inspiração da marca e identidade visual do blog, espetei em palitos de churrasco e coloquei em potes de palmito com sal grosso e brilho vermelho.trintinha 6trintinha 4trintinha 16

Sim sim, além do vermelho, o “open bar de brilho” era o ponto forte da decoração, afinal, foi o que decorou a parte mais bonita da festa: os convidados. <3 Coloquei à disposição da galera brilhos de várias cores, tipos, formatos, espelhinho e gloss pra aplicar. Foi tão lindo ver todo mundo brilhando! As pessoas ficaram radiantes, feito eu estava.trintinha 8

A festinha também foi “open bar de caranguejo”, então foi uma mistura de brilho com lambuzado em todo mundo hahah :) São duas coisas que eu aaaaaamo de paixão, brilho e caranguejo, então fiz questão de dividir com esse povo bom que eu tenho por perto. Mamãe ainda fez um caldinho de feijoada delicioso pra dar a sustança na turma, e o café da Gordinha estava vendendo as bebidas e as comidas deliciosas dela. Pense que ficou todo mundo super bem servido.trintinha 13 trintinha 12 trintinha 9O som da festa estava suuuuper elogiado, o tempo inteiro. Teve DJ Fininho (meu amor <3) e DJ Galego dos Coelhos. Teve duelo dos dois, deve som de vinil, de iPad, de computador, teve tudo. Além disso, tinha Ianah Maia fazendo flash day de tatuagens, com desenhos lindos a R$200. Ela tatuou 6 pessoas e eternizou o dia da festa na pele. Belle Souza da Hair Instiga também tava cortando cabelos por lá, deixando o povo ainda mais bonito. Pese numas atrações rochedos que eu consegui reunir! trintinha 14 trintinha 7O dia estava lindo, o céu estava claro, sem uma nuvem. A noite caiu gostosa com uma lua belíssima bem acima das nossas cabeças. Foi tudo tão incrível que eu não consigo parar de agradecer por esse dia. Teve skype com amiga em Barcelona, teve presente de amiga de São Miguel do Gostoso, teve gente se fazendo presente mesmo à distância. E eu posso garantir que recebi todas as good vibes enviadas. Ainda tive a sorte de ter fotos dos convidados, que levaram câmeras pra ajudar a registrar esse momento incrível. Então aqui tem fotos de Julia, Yanna, Malu e minhas. :)

Ah, de presente para os convidados, eu pedi 1kg de ração para cachorro adulto, que eu vou doar para uma moça que cuida de uns cachorros resgatados lá em Camaragibe. Ano passado fiz isso também, e vi o quanto ajuda. Esse ano foram arrecadados 52kg de ração, e isso me deixou ainda mais feliz do que eu achei que poderia ficar. Meu coração está gordo de amor, e eu sou só gratidão.

Obrigada 30, você chegou me fazendo muito bem. Estou me sentindo linda, e a parte mais bonita tá brilhando aqui dentro do peito. Vamos celebrar a vida!trintinha 15



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