Quando a gente chega naquele pequeno aeroporto de Calama, no meio do nada, já dá pra perceber: estamos no deserto. Cactos por todos os lados, aquele chão seco de terra, aquele ar diferente de respirar e cachorros por todos os lugares. Sim, inclusive dentro do aeroporto. A chegada é linda, cheguei de manhã bem cedinho e só não vi amanhecer pela janela do avião porque estava dormindo, naturalmente. hahaha :P Mas oh, foi pisar em Calama que eu já senti meu coração bater mais forte. Parece que a aventura tava prestes a começar.
Todo mundo que chega em Calama tá com o mesmo objetivo: pegar um transfer pra San Pedro de Atacama. Vários agentes vão te abordar na saída te oferecendo esses transfers, a dica é ir num dos guichês e escolher uma van dessas empresas oficiais. E outra dica é pechinchar. Sim, dentro do aeroporto nos guichês oficiais. Parece coisa de brasileiro, né? Pode até ser. Eu tava ligada que ia pagar na casa dos 12.000 pesos (+- R$70) pela passagem. Mas aí fiquei na frente de uns brasileiros na fila e ouvi quando um deles disse para a moça algo tipo “aaahh mas um amigo meu veio aqui semana passada e pagou 10.000 (+- R$60)”. E a moça prontamente baixou o preço. Eu só fiz olhar pra ela e dizer “10.000, né?”, e pronto. Foi isso. :P
A estrada de Calama pra San Pedro é linda, e uma das coisas que mais me chamou atenção foram uns santuários que a galera constrói para pessoas que morreram em acidentes na estrada, sabe? Aqui no Brasil é comum ver umas cruzes, algumas capelinhas com flores e tal. Mas lá o lance parece profissional. São santuários gigantes, alguns a galera coloca o próprio carro e faz uma construção toda robusta em homenagem aos que fizeram a passagem por ali. É meio assustador. Eu tirei umas fotos mas está na leva do que perdi no celular. :( Mas, vida que segue. :)
O transfer deixa a gente na porta do hostel. Como San Pedro é uma cidade muito pequena e só tem basicamente hostels, agências de turismo, restaurantes e mercadinhos, todo mundo se conhece e sabe onde fica tudo. Dá o nome do hostel pro moço do transfer e pronto, desce na porta. Eu fiquei no Hostal Rural, que já tinha reservado pelo booking no Brasil.
O que eu percebi no Atacama é que os preços variam sempre entre “caro” e “estupidamente caro”. O meio termo por lá não existe muito. Esse hostel, por exemplo, que é bem rústico, os quartos compartilhados são pequenos e não tão organizados assim, e tem um café da manhã com o pão mais duro que já comi, café solúvel e geléia dessas de potinho de plástico, por uma diária de +-R$100. Isso pra você dormir num quarto compartilhado com banheiro privativo pra 6 pessoas. Eu boto fé que reservando por lá você consegue até mais barato, mas vi uma galera tendo que pular de hostel em hostel porque as vagas vão lotando e quem não tá com reserva prévia tem que sair. Então acredito que apesar do preço, vale pela garantia.
Como cheguei muito cedo e ainda não tava na hora do check in, deixei meu mochilão por lá e fui dar uma volta na cidade, ver o que tinha pra fazer por lá pra me aclimatar. San Pedro de Atacama fica 2.438m acima do nível do mar, e tem muita gente que sofre com a altitude. Eu tava só me sentindo um pouco mais cansada que o normal. Subia um lance de escada e tava respirando fundo. Fora isso, tava de boas.
No próprio hostel eles oferecem alguns tours, mas a dica é buscar nas agências da cidade e comparar os preços, que podem variar bastante. Outra dica é buscar as agências que ficam nas ruas transversais, porque tudo que fica na rua principal tende a ser mais caro. Entrei em algumas agências, peguei uns folders e a conversa é sempre a mesma: fecha todos os pacotes de todos os dias de todos os passeios que você vai ganhar um desconto maravilhoso e ficar preso com a gente durante toda sua estadia em San Pedro. Cuidado com isso, tá? Os tours são cansativos e às vezes sair emendando um no outro pode ser uma cilada.
Depois de umas rodadas sentei na Atacama Connection e comecei a conversar com a moça. Olhei pra ela e achei o sotaque espanhol meio diferente, depois dela já ter me explicado uns 3 tours diferentes. Aí perguntei de onde ela era, e foi batata: Brasil! Então começamos a falar português felizes da vida, e ela achando que eu era francesa ou espanhola, como a maioria das pessoas pensou durante a viagem. :P Claro que de brasileira pra brasileira os descontos foram maiores e eu agendei praticamente todos os meus tours com essa agência, mas não de uma vez.
Para o primeiro dia o tour de aclimatação é o Valle de La Luna, que não tem uma diferença de altitude em relação a cidade. O tour sai no meio da tarde e vai até o pôr do sol, e a gente percorre cerca de 50km numa van com nosso guia-motorista. No meu caso foi uma mulher, são poucas por lá que comandam os tours. Fui com meus sapatos de trekking porque me avisaram das caminhadas e oh, salvou. Tanto no Valle de La Luna quanto na Cordilheira de Sal a gente anda bastante, sobe uns morro de areia e precisa de muita água pra aguentar o tranco.
Não só pelo clima seco, mas pela quantidade de sal que tem em todo lugar por lá, água é seeeempre necessário.
Essa formação rochosa aí em cima é conhecida como Três Marias, e a história é que essa menor aí do lado esquerdo na verdade era maior, mas um turista europeu sem noção resolveu chegar junto pra tirar uma foto e derrubou um pedaço desta formação vulcânica milenar. Por isso, algumas áreas desses parques são isoladas e o acesso é restrito. 
Tudo isso branco é sal. Muito sal. Sal bagarai. Coloquei essa indicação aí da van na estradinha pra tentar dar um referencial de tamanho e amplitude desta vista. Gigante, né não? Enorme e isso é só um pedacinho. Ê mundão bão. <3
Sabe de onde vem todo esse sal? Da época que o nosso mundo estava formando os seus continentes. A Pangéia se separou, as placas continentais deram aquela flutuada marota e quando a placa Nazca se chocou com a placa Sul Americana, emergiu a Cordilheira dos Andes e tudo isso que rodeia a espinha dorsal da América Latina. E como saiu das profundezas do oceano, a gente encontra muito sal e tem alguns pesquisadores que encontraram até fósseis marinhos no alto da Cordilheira. Massa, né? :)
Durante esse tour a gente vai na Cordilheira de Sal, na Caverna de Sal, e eu tive a sorte de estar dividindo o rolê com Tim, um alemão que mora no Equador e é super gente boa. Ele é uma pessoa super sensorial, então estava o tempo todo sentindo a textura das diferentes areias, pedras, superfícies por onde a gente passava. Isso me despertou essa curiosidade e foi massa ir tocando nas coisas e tendo essa sensação diferente das texturas. As formações de sal são impressionantes! Algumas vezes parecem cristais. 


Sim, eu passei a mão no sal e botei na boca, com sujeira e tudo. Tô vacinada e tomo remédio de verme pra isso hahaha :P 
O céu azul e esse sol todo podem esconder umas surpresas, mas nesse dia estava quente mesmo. As caminhadas e subidas ajudaram também, eu estava suando! De regata e calça, e pingando. Mas eu tinha sido avisada para levar casaco que ia esfriar, ele tava na van me esperando. Depois da gente andar tudo e a nossa guia Nadia nos mostrar coisas lindas e nos sugerir agradecer a Pachamama por toda a experiência, fomos ver o pôr do sol. QUE PÔR DO SOL INCRÍVEL! <3
A vista lá de cima é estupenda, os relevos são super diferentes, dá pra ficar olhando por horas descobrindo formas, texturas, tudo. O queixo caiu e até o fim da viagem não levantou mais. Pena que nenhuma foto consegue mostrar, sério.

É só o sol começar a baixar que o frio começa a bater, instantâneo. E aí venta muuuuito! Aquele vento de clima seco, frio cortante, é babado. É bom levar algo pra proteger o rosto e a garganta, além das orelhas. Eu tava com um negócio que comprei em Santiago e não sei como chama, mas é tipo uma gola que a pessoa pode fazer de gorro ou colocar também na cara. Bem quente e útil pra esses casos. :P Coloquei o casaco corta-vento carinhosamente emprestado pela amiga Flavinha que já tinha feito essa viagem e pronto. Consegui ver o pôr do sol feliz, apesar do frio.
O sol se põe de um lado e deixa a Cordilheira dos Andes toda laranja, o Lincancabur todo maravilhoso colorido, é um espetáculo que não consigo descrever. Sério.
Quando o sol se recolheu, nós também nos recolhemos. Hora de voltar pra San Pedro morrendo de frio dentro da van. Chegando lá saí pra jantar com Tim, pois tínhamos agendado para a mesma noite o tour astronômico. Quando cheguei no Atacama a lua estava crescente e bem crescidinha já, o que não é legal pra observação astronômica. Nunca pensei que fosse ficar triste com o brilho da lua, viu? Hahaha :)
Algumas agências nem vendem o tour astronômico na lua cheia, por exemplo. Em noites sem lua é fácil ver a Via Láctea a olho nu, além das constelações e estrelas cadentes mil. O Atacama possui o maior observatório astronômico do mundo, e atrai estudiosos de todos os lugares.
Jantei um delicioso sanduíche de creme de abacate com tomate e queijo, e fomos para a agência esperar sair a van para as estrelas. :) A gente se afasta até um telescópio que fica longe das luzes da cidade, pra melhorar a visibilidade. O frio é grande e eles distribuem uns cobertores, chá, chocolate quente e café, além de uns bolinhos e bolachas pra gente não se concentrar só no vento que tá levando na cara hahaha :P
O guia tem um laser point que é babaaaado! Ele consegue apontar para as estrelas e constelações, desenhando bem direitinho o que ele tá explicando. Aí dando uma olhada aqui no meu diário, pra escrever esse post, anotei que a primeira constelação que ele mostrou foi Sirius Black, que é o nome “original” de Gato Gil, meu gato mais velho. <3 Na sequência ele mostrou as constelações de Gêmeos e Leão, eu e Malu, minha irmã. <3 Acho que eu tava bem sentimental esse dia hahaha
Depois ele começa a apontar o telescópio para alguns planetas e estrelas, e a gente se reveza pra olhar. Eu vi Júpiter e 3 luas e várias outras coisas. Levei um choque no olho quando fui ver a lua, por conta da estática do deserto. Pense num susto! Aí quando ele aponta pra lua ele pega os nossos celulares e faz uma foto pelo telescópio, que é o nosso souvenir, já que não dá pra tirar fotos por lá porque é completamente escuro. Até tentei com a câmera, suando baixa velocidade, mas sem sucesso. É breu total.
Cheguei no Atacama com o pé direito. Energia do sal, da terra, do sol, da lua, das estrelas. Eu sou mesmo abençoada. Gracias, Pachamama! <3