carnaval não é bagunça
Meu carnaval a cada ano que passa consegue ser mais especial. O carnaval de 2017 foi incrível pra mim, e cheio de coisas diferentes. Mesmo estando na mesma cidade, ouvindo as mesmas músicas, encontrando as mesmas pessoas, foi diferente. Primeiro, porque eu estou diferente. Não sou a mesma de ontem, quem dirá do carnaval passado. Segundo, porque vivi detalhes diferentes que fizeram dos meus dias super especiais.
Foto: Gabi Lobo
Fiz minhas fantasias! Não é ter a ideia e mandar fazer. Não é ter a ideia e comprar as coisas e juntar num look. Não é ter a ideia e customizar uma peça ou outra. EU FIZ AS FANTASIAS! E isso me deu um orgulho (e um trabalho!) tão grande! No sábado eu saí de arara, com minhas asas coloridas que eu fiz durante dias, usando um maiô que eu decorei com brilhos pedrinha por pedrinha, um penacho alto na cabeça que eu montei pensando: só perde essa arara de vista quem quiser! Até os brincos eu fiz. :) Estava me sentindo a pessoa mais linda das ladeiras. E quem vinha me elogiar eu dizia: TÔ DEMAIS, NÉ?! E segui batendo as asas e distribuindo sorriso das 11h da manhã no Trinca de Ás até depois do Homem da Meia Noite. Fui para blocos que eu nunca tinha ido, deixei de ir para blocos que eu vou há anos, fui pro show de Orquestra Contemporânea de Olinda e depois de Eddie com Karina Buhr e Isaar que nem esperava ir e foi incrível, encontrei e reencontrei pessoas amadas por onde passei. Oh jeito bom de começar o carnaval!
No domingo, o dia que geralmente eu tô passando mal por conta do dia longo do sábado, juntei minhas forças e fui prestigiar o bloco do boy com um aviso: use uma roupa que pode sujar. Então o look foi nada de mais. Um pedaço de chita que ganhei num presskit e virou uma saia e um top hehehe :P O Bloco dos Sujos não decepcionou. Depois da distribuição dos tradicionais pitulés, o percurso geriátrico evitando os maiores empurra-empurra das ladeiras foi massa. Depois de ser julgada por querer tomar um banho, fui suja mesmo pro já tradicional no meu roteiro: a festa do I Love Cafusú. Que festa arretada. Quanta dança, quanto sarro, quanto beijo, quanta gente querida.
Foto: Antônio Leão
Foto: Iris Baccaro
A segunda era o dia mais esperado por mim. O dia de desfilar com blocos que ajudei a fundar, com blocos dos amigos, o dia de encarar Olinda de peito aberto e nu. O dia de mostrar que a união faz a força e juntar o Bloco Femmi Vaca Profana, Pessoal da Igreja, Bora Mago e O Sol Tá Massa num desfile único, regido por uma orquestra formada por 20 mulheres. O dia de me juntar a mais de 50, talvez 70 (será que 100?) mulheres com os peitos de fora gritando que MACHISTAS, FASCISTAS, NÃO PASSARÃO! Dançar vestida de glitter, com amigos e amigas fazendo um cordão de isolamento humano para nos preservar daqueles que não entendem o que significa MEU CORPO NÃO É UM CONVITE. Uma união não só de blocos, mas de pessoas que estão aqui para fazer uma revolução. Para cantar junto, para dar água, cerveja, batida, beijo, força, voz. Foi um dia épico, histórico. Feliz demais em ver tanta gente querida se juntar querendo fazer a diferença. Querendo mostrar que carnaval não é bagunça. É cultura, é política, é a vida da gente.
Neste dia eu não só desfilei com as meninas, mas tive a oportunidade de ouvir coisas que realmente fizeram a diferença na minha vida. Ouvi “Terrinha, eu aprendo muito com você.”, ouvi que “Você é uma mulher que eu respeito e que quando abre a boca eu faço questão de parar pra ouvir.”, ouvi que “A parte mais bonita foi quando você foi agradecer de um por um que estava no cordão, quando a gente que queria agradecer a vocês que estavam dentro dele.”, ouvi “Isso é importante pra mim, que como homem que errei demais, sei que posso aprender com meus erros e com vocês.”. Ouvi tanta coisa linda que nem sei contar. Foi, sem dúvidas, o dia mais do que emocionante e que vai ficar marcado na minha vida pra sempre. E ano que vem tem mais. E vai ter mais mulher. E vai ter mais homem. E vai ter mais gente, que é isso que importa. Vamos todos que juntos somos mais fortes. Depois disso, só um belo show de Otto no Pátio de São Pedro pra fechar o dia com chave de ouro. Que dia!
Na terça-feira foi difícil pegar no tranco. Ainda absorvendo tudo que foi a segunda, foi dia de ir mais tarde pra Olinda e começar com um show de Academia da Berlinda pra acordar os músculos. Eu e minha roupa de pranta, com uma Catuaba Selvagem debaixo do braço, desfilamos pra cima e pra baixo. Foi muita pranta, viu? Fiz arranjo pra cabeça, brinco, arranjo para os braços, fiz o busto, a saia, e tome pranta. Costurei, colei, amarrei, enrolei e adorei o resultado. :) Não saí do tradicional vermelho e amarelo da terça, apesar do objetivo do dia ser mesmo ir atrás do Eu Acho É Pouco, que é bom demais. Como eu não tinha visto no sábado, fiz questão de acompanhar o dragão com seu gigante FORA TEMER estampado. E teve gente gritando FORA TEMER o carnaval todo sim. E teve gente reclamando de quem gritava FORA TEMER sim. E tem que ter tudo isso. Porque a voz da gente também ecoa no carnaval. Não só nele, assim como não só no Facebook, não só no sofá, não só na internet. Mas também. Então, por isso, tome mais um: FORA TEMER!!!
O EAEP, tão tradicional, teve que mudar de rota por conta de um acidente com um caminhão. E até isso fez a diferença. Tudo nesse carnaval tava mesmo pra ter alguma mudança. Especialmente inesperadas mudanças. E foi lindo do jeito que foi. Foi especial do jeito que foi. Inesquecível do jeito que foi.
Carnaval não é bagunça. Carnaval é uma energia muito forte envolvida. Trocamos muita coisa nos encontros, nos beijos, nos abraços, nos discursos. A fantasia do meu ideal não é bagunça. E ano que vem tem mais coisa séria pra gente mostrar, fotografar, sorrir e chorar. Carnaval doismiledezessete, você foi foda. Obrigada. <3
P.S. Algumas fotos estão ruins porque foram tirados prints do celular assim que foram publicadas no Instagram, já que logo em seguida elas foram apagadas pela plataforma por conta da nudez. Então, quem tiver fotos legais dos blocos, manda pra mim! :D