meus irmãos que não são gêmeos
Eu sou filha de pais que nunca casaram, e que se separaram antes mesmo de eu nascer. Fui filha única, e sempre morei com minha mãe. Meu pai morou em Recife até os meus 6 anos, se mudando depois para São Paulo. Sempre fomos eu e minha mãe, que sempre trabalhou o dia inteiro e muitas vezes chegava em casa e me encontrava dormindo. Talvez por isso, por essa pequena solidão infantil, que eu sempre pedi um irmãozinho ao rezar santo anjo do senhor antes de dormir. Todos os meus amigos na rua e no colégio tinham irmãos, pais casados e família grande. E eu era a filha única, meio mimada, meio chata, meio protegida. E todo dia eu rezava e pedia um irmãozinho.
Eis que um certo dia, quando eu tinha 8 anos, fiquei sabendo que Deus ouvira minhas preces em dobro, e que eu ganharia um irmão de cada lado. Uma irmã por parte de mãe, e um irmão por parte de pai. Então dois meses depois de completar 9 anos, eu ganhei minha irmã. Malu, minha morena linda, recifense, leonina e que eu acompanhei os primeiros passos, e todos os outros que vieram em seguida. Então, exatamente um mês e um dia depois, eu ganho o meu irmão. Fabinho, branquinho do cabelo tão loiro que era quase cinza, mineiro, virginiano e que eu acompanhei um pouco de longe, mas nunca distante. E não parou por aí, porque junto com Fabinho veio sua mãe, a Angélica, que por sua vez já tinha o Leo, que tem a minha idade e que também virou meu irmão.
E a partir daí eu passei a minha vida inteira explicando que eu tinha dois irmãos da mesma idade que não eram gêmeos, e outro da minha idade que não era gêmeo meu. E pra complicar ainda mais, eu fazia questão de dizer que Malu é exatamente um mês e um dia mais velha que Fábio, e que eu sou exatamente um mês e um dia mais velha que Leo. Deu pra entender? Pode ser difícil de explicar, mas o amor e o carinho que eu sinto por eles parece que já nasceu comigo.
Fabinho, que morou esses dois últimos anos em Buenos Aires, resolveu começar a sua volta para o Brasil por Recife. E está me dando a honra da sua visita por uma semana na minha casa. E toda vez que ele vem é isso, nos juntamos nós três, eu e meus dois irmãos que não são gêmeos, e só nos desgrudamos na hora do embarque de volta. E só de pensar que existe esse embarque de volta me dá uma saudade… Porque eu e Fabinho sempre vivemos com essas despedidas, mas o aperto no peito parece não acabar nunca.
E Leo, agora só falta você aparcer por aqui ;)