home sobre mim sobre o blog mídia kit

Todos os posts sobre chile

san “perro” de atacama


Depois de ter feito o tour do Salar de Talar, Piedras Rojas e as Lagunas, eu fiquei beeem cansada. No dia seguinte eu não quis agendar nenhum tour, resolvi tirar o day off pela cidade. Até pensei em pegar uma bike e fazer o Vale de La Muerte, que tinham me indicado. Mas conheci uns brasileiros no hostel, na noite anterior, que disseram que é muito deserto e que ir sozinha podia ser um problema. Porque se eu caísse de bike e me machucasse, ninguém me ouviria gritar. É, fiquei meio assustada. hehehe :P

Então, apesar da intimidade com a bike, pensei que ainda estava no começo da viagem e não queria correr riscos de botar algo a perder. Então fiquei quietinha, curando a ressaca da altitude. Tomei café da manhã com meus amigos pássaros, que são totalmente destemidos e é só deixar umas migalhas que eles chegam junto o tempo todo, e segui pra dar uma volta. As ruas de San Pedro são todas assim, de barro, as casas são simples, mas quando você menos espera dá de cara com o vulcão Licancabur compondo a paisagem. Além desse céu azul lindo, que quando o sol já está mais alto fica um clima quente pra sair de short e chinelo. Beeeem diferente do clima de quando começa a escurecer. Clima de deserto, né? De oito pra oitenta em algumas horas. Sugiro buscar alguma sorveteria artesanal local e experimentar os sabores exóticos. Esse daí é Ayrampo, a flor do cactus, e é uma delícia. Tem de ervas, de raiz, de um monte de coisa. E no calor seco que tava fazendo, um sorvetinho salva real. Gostei muito da Babalu Heladeria, foi o melhor que experimentei por lá. Eu tô até agora impressionada com o que o clima seco fez com meu cabelo hahaha :P Ele ficou assim, liso, escorrido, estranho, não sei explicar. Aí ainda tava “de boas”, quando cheguei na Bolívia eu tava parecendo o Zacarias de peruca, sério. Então aproveitei pra uma selfie (com pau de selfie sim!) no grafite que mandava cuidar de mim. Nhóim, como sou fofa. hahahaEntão fui  visitar as feirinhas de artesanato e fotografar os cachorros. São MUITOS cachorros em todos os lugares, o tempo todo. Nas agências, na farmácia, nos restaurantes, nos hostels, em todo lugar. Aí você entende porque lá é carinhosamente chamado de San Perro de Atacama hahaha :)

Por isso, fiquem com alguns registros dos perros do Atacama pra deixar esse dia mais lindíneo.Aí pra fechar o dia, resolvi que ia tomar uma cerveja pela primeira vez desde que estava no Atacama. No hostel mesmo, de boas, sossegada. Tomei DUAS (duas, apenas duas) long necks e estava bêbada. Sim, bêbada. Ahhh altitude, como você me deixa econômica! :PMas foi bom pra me ajudar a dormir cedo, já que aproveitei o rolê pela cidade pra agendar o tour do dia seguinte, que seria de novo de dia inteiro, então eu queria estar descansada. :)

Foi massa tirar um day off, sabe. Quando a gente viaja parece que tem que estar fazendo algo o tempo todo, né? Se não estiver, parece que está perdendo tempo. Mas, na real, tirar um tempo pra não fazer nada e “apenas” contemplar o ambiente, sentar numa praça pra escrever, fotografar ou qualquer coisa mais “leve” que não seja estar enfiado em tours turísticos ou visitando os locais mais badalados, é muito bem vindo.

Por isso, fica aqui minha sugestão pra quem visita o Atacama (ou qualquer outro lugar) com um pouco mais de tempo: tire um tempo pra fazer nada, é uma delícia. :)


salar de talar, piedras rojas, lagunas e a natureza mágica


Depois da chegada nos tours do Valle de La Luna e o astronômico, eu resolvi fazer um full-day tour que ia levar a gente a uma altitude maior: mais de 4.000m. É o tour onde passamos pela Laguna Chaxa, Salar de Talar, Piedras Rojas, Lagunas Miscanti e Miñiques e o povoado de Socaire. É um tour lindo, longo, cansativo e cheio de surpresas.

Quem vive na selva de pedra e tá acostumado a ver gente levar passarinho pra passear em gaiola se impressiona com os animais silvestres soltos, né? Pois é, eu me impressionei e me emocionei com cada um que eu tive a chance de ver. Os primeiros foram os flamingos na Laguna Chaxa, onde chegamos pra tomar o desayuno com muito pão duro e café solúvel hehehe. Foi a primeira vez que eu vi os flamingos, e fiquei encantada mesmo sendo tão poucos e tão tímidos hehehe :) Achei massa que além de ver enquanto eles andavam e comiam pela laguna, vi alguns voando de um lado para o outro, foi lindo. Tava um frio da porra! Muito vento e ainda eram antes das 8h da manhã, e quanto mais cedo, mais frio faz nesse lugar. Então era muito chá e muito café pra tentar aquecer um pouco, viu?

Por saber que iríamos subir bem nesse tour, já comecei tomando chá de coca pra evitar passar mal. Além de que é recomendável que se coma pouco e beba muita água, que ajuda na oxigenação do sangue. Caminhamos um pouco por entre essas lagunas, e é impressionante ver a formação do terreno. Se eu fosse imaginar o solo da lua, seria assim. Umas formações de sal e pedra meio pontudas, quase agressivas, misturado com as lagunas e uma vegetação desértica. É lindo, lindo. Seguimos caminho.Durante esse tour nós percorremos um total de 270km entre ida e volta, e nesse percurso nós rodeamos o tempo todo o volcán Miñiques e temos a chance de vê-lo de diferentes ângulos. É lindo como parecem vários vulcões em um só. Nossa guia Nadia, a mesma guia do dia anterior, é uma apaixonada pela natureza, pela história e pela magia local, e ela falou com um amor tão grande por este vulcão que é impossível não sentir sua presença real. <3

Aí na foto de cima dá pra ver as vicuñas, que são parentes selvagens das lhamas. Sempre em bando, com um macho para várias fêmeas, a gente aprendeu a identificar quem é quem, vimos filhotinhos, vimos elas nos olhando e correndo de nós. Elas se alimentam desses arbustos e fazem longas caminhadas pelas montanhas. Fofas. <3A caminho do Salar de Talar e das Piedras Rojas, paramos no Trópico de Capricórnio (meu ascendente que tô torcendo que assuma logo esse coração que é mais canceriano que geminiano, socorro!) e pudemos ver o Camino Del Inca, que é essa pequena estrada ladeada por pedras, onde os caminhantes atravessam looongos quilômetros entre o Chile e a Bolívia. É impressionante ver o caminho sumir de vista para os dois lados, e nós no meio. É uma energia impressionante. A primeira vista que temos do Salar de Talar é de longe, e essas suas montanhas parecem pintadas à mão! Suaves, macias, parece um contraponto com as duras montanhas e vulcões da Cordilheira dos Andes. As Piedras Rojas são rojas mesmo! A cor avermelhada delas é linda e o formato, esculpido pela água e pelo vento parecem ondas que acabaram de ser derramadas. O vento aí é muuuuito forte, tudo é muito frio. Inclusive as águas da Laguna Aguas Calientes é muito fria hahaha Essa água transparente parece tão convidativa pra um mergulho, né? Mas só de molhar a mão achei que fosse congelar inteira hahaha :P E meu amigo Tim, o mesmo do tour de ontem, com sua vibe sensorial, que me fez colocar a mão na água e sentir que é salgada. :)

Aí a gente estava a mais de 4.000m acima do nível do mar e foi a primeira vez que eu senti os efeitos da altitude. Ao contrário de várias outras pessoas que passam suuuuper mal, eu só estava levemente bêbada. Não podia levantar a cabeça rápido que tudo rodava. Tava meio tonta e me sentindo super cansada. A orientação é sempre andar devagar, e com essa tontura parecia que eu tava andando na lua, passos altos, lentos e loucos hahaha :P A respiração funda é mais pra acalmar o coração, porque o ar não entra nem a pau. É babado. 

As Lagunas Miscanti e Miñiques são mágicas. Além de parecerem uma pintura, têm uma história muito interessante. Elas ficam uma do lado da outra e antigamente elas eram uma lagoa só, enorme. Aí o vulcão Miñiques entrou em erupção e dividiu a lagoa em duas lagoas irmãs. Mas o mistério está nas diferenças entre as duas. Uma tem água doce e a outra água salgada, como pode? Uma é super rasa e a outra tem uma profundidade desconhecida. Uma tem pouquíssimos peixes, outra é rica em vida aquática. Diferentes tipos de pássaros frequentam cada uma delas, inclusive é por conta deles que não podemos nos aproximar das águas. E uma delas congela no inverno e a outra não.

As lagunas irmãs são tão diferentes e igualmente bonitas. Uma metáfora da altitude pra vida. <3Paramos para almoçar num lugar onde dava pra ouvir o rio passando, apesar de não dar pra ver. Entre pedras e uma vegetação rara, comemos nosso Rap10 com palmito, tomate, amendoim, milho e atum, além de mais café solúvel hehehe

Aí eu consegui me distanciar um pouco da turma e sentei de frente pra essa vista da foto aí de cima. Sentei, vi uns pequenos répteis e uns insetos estranhos, e consegui meditar um pouco. Muita natureza desse tour pra absorver, viu?Uma pausa na estrada para ver a lua nascer entre os vulcões <3 E pra observar um pouco do povoado de Socaire, que tem a agricultura como forma de sobrevivência. Imagina, né? Nesse solo, nesse clima, nessas condições, a vida vive e faz viver. Eita que eu tô é poética hahaha :PPor fim, todos já exaustos e dormindo o tempo inteiro na van, o que também é culpa da altitude, paramos no povoado de Socaire. Lá tem uma pequena igreja, uma pequena praça, uma pequena lojinha de artesanato e grandes cactus. Esses enormes, que de tão grandes são usados como madeira em algumas construções, como nessa porta.

Essa capelinha aí é super antiga, não me lembro de quando, mas de antes da invasão dos espanhóis. Eles mantiveram ela, colocaram uma cruz e construíram uma igreja atrás para agradar os católicos invasores. Hoje ela tá assim, acabadinha, mas é um símbolo do povoado.

E depois disso, voltamos para San Pedro. É um tour que dura aproximadamente 12 horas, passa por essa quantidade de lugar lindo, onde podemos ver diferentes bichos, viver diferentes experiências visuais e sensoriais, e onde nenhuma foto vai conseguir traduzir o que vi, vivi e senti por aí.

Voltei meio derrubada pro hostel, onde conheci dois uruguaios super gente boa que estavam voltando da Bolívia. Saímos pra jantar juntos, encontrei uma sopa pra aquecer meu coração e capotei de sono depois. Tava precisando. O segundo dia foi ainda mais incrível que o primeiro, e o Atacama foi ganhando meu amor verdadeiro a cada minuto que passava. <3


santiago – leftovers


Como disse desde o primeiro post da viagem, meus relatos aqui não são pra ser um roteiro, dia por dia. Apesar disso, tem um monte de dica entre os posts de Santiago que podem ser levados em conta pra quem vai fazer uma visita na cidade. 

Depois do Lollapalooza eu só tinha mais um dia em Santiago antes de embarcar para Calama, e foi um dia curto já que me dividi entre lavar roupa, arrumar mala e organizar a vida e dar uma última volta na cidade. Então vou reunir aqui algumas coisas que lembrei sobre meu tempo em Santiago.

Transfer de ida e volta pro Aeroporto

Assim que cheguei em Santiago fui num guichê de informações turísticas no aeroporto e perguntei qual era a melhor forma de ir pro Centro. Ela me disse que podia ser de taxi, que não era recomendado, ou que fosse de transfer, umas vans que ficam saindo de poucos em poucos minutos e deixam na porta do hotel, hostel ou apartamento. Foi minha opção. Paguei 10.000 pesos +- R$58), se não me engano, e a van me deixou na porta do prédio do Airbnb. Na volta, eu e Felipe pegaríamos os vôos no mesmo horário. Eu para Calama e ele de volta para Recife. E como era de madrugada, resolvemos dividir um Uber. Foi bem tranquilo também.

Taxi é treta

Só pra reforçar mesmo, que não é bom pegar taxi em Santiago. Eles entregam notas falsas, te cobram mais do que devem, te roubam trocando notas mais altas por mais baixas, entre outras picaretagens bem conhecidas por lá. Então, evitem!

Estações de metrô com arte em toda parte

As estações de Metrô de Santiago podem esconder lindas obras de arte. Então vale dar uma volta em um horário que não seja de pico, para conhecer um pouco, especialmente as maiores.

Palta, palta everywhere!

Eu acho que da primeira até a última refeição que fiz em Santiago, eu comi abacate. Engraçado, porque eu nunca fui de comer abacate no Brasil. Não gosto da vitamina, nunca tinha comprado um abacate, adoro guacamole mas nunca tinha feito e nem experimentado o abacate em outras comidas salgadas, até conhecer o Chile. E minha relação com essa fruta mudou completamente. Tudo bem que lá o abacate é o avocado, pequeno, da casca preta e muito mais suculento! O daqui é mei aguado, mas dá pro gasto. Então, fica a dica pra perder o preconceito e se jogar na palta!

Torta Tres Leches

Foi uma das coisas mais gostosas que comi por lá! Que sobremesa deliciosa. Essa é do Bar Radicales, o mesmo lugar onde almocei esse prato aí de cima. O lugar é massa, vale a visita. Tem cinema, sex shop, tabacaria, hostel, além de ser um bar com bebidas e comidas deliciosas. Valeu a dica, Marília!

Não confunda ají com ketchup

Lá em Santiago eles têm o delicioso costume de colocar ají (pimenta) em tudo. Eles fazem um molho delicioso de pimenta, e eu que adoro essa especiaria, me faço. Mas, claro, que vou experimentando, botando minha medida, conhecendo cada molho. Até que eu fui tomar café da manhã (CAFÉ DA MANHÃ, po!) num lugar chamado Dominó, que super indico.

Bom e barato, pedi um sanduíche de queijo e palta (sempre) e resolvi que ia experimentar colocar mostarda escura. Tinham 4 bisnagas na mesa. Uma amarela de mostarda, uma marrom de mostarda escura, uma vermelha e uma verde. Qual minha lógica? A vermelha é ketchup, claro. Então depois de experimentar a mostarda escura bem gostosa, fui experimentar o ketchup. ERA AJÍ! Minha gente, que sacanagem. Eles colocam o ají na bisnaga vermelha e o ketchup na verde. QUAL A LÓGICA? Chorei, claro. Então fiquem atentos, especialmente se forem sensíveis. :P

A comida de rua é massa

A primeira coisa que comi na noite que cheguei foi um hambúrguer de soja que é vendido em uns coolers no meio da rua. Se eu tivesse sozinha talvez não tivesse arriscado assim de primeira. Mas como estava com Gustavo e ele me indicou e era bem barato, tipo uns 800 pesos (R$+-4,70) eu experimentei e adorei. Você ainda escolhe o molho, é suculento e grande.

Uma amiga que morou lá disse que os sushis que vendem na rua são bons também, mas esses eu não experimentei. Também comi em barraquinhas na rua, comprei empanadas na porta do metrô, e não tive aperreio com a barriga em momento algum. Então vale a experiência de comer bem e barato, sem preconceito.

O clima é muito seco

Isso deve ser uma das coisas que mais devemos lembrar antes, durante e depois de passar por Santiago. O clima seco resseca a pele, a boca, a alma. Então mesmo que você ainda não esteja sentindo a boca ressecada ou coisa assim, é bom ficar usando protetor labial. Se não, em poucos dias, sua boca vai rachar. Também é bom não economizar no hidratante corporal, soro para o nariz e para os olhos e lembrar de beber muita água.

Os horários das coisas são estranhos pra mim

A cidade acorda mais tarde, as lojas abrem mais tarde, tem loja que abre no fim da tarde, tem vendedor de rua chegando na rua fim de tarde… E as coisas não parecem ter um padrão. Tipo, as lojas de uma rua abrem cada uma num horário, no mesmo centro comercial tem loja abrindo, loja fechando, é uma viagem. Então, se você quer visitar algum lugar específico, ou alguma loja, é bom confirmar o horário de funcionamento pra não se surpreender.

Bem, depois de 6 dias na capital chilena, foi a hora de embarcar para Calama, o aeroporto mais próximo de San Pedro de Atacama. Vai começar uma outra etapa da viagem, totalmente diferente. Trocar o quarto particular do Airbnb pelo compartilhado do hostel, a cidade grande pelo povoado, os prédios, metrô e asfalto pela energia do deserto. Spoiler: foi incrível!

E se tiverem dúvidas sobre a cidade, é só comentar aqui. Se eu souber, vai ser um prazer ajudar. :)

 


lollapalooza chile 2017 e o álcool em santiago


Vou começar esse post logo com um mimimi. Perdi altas fotos, especialmente dos dias do Lollapalooza, com o tilt que deu no meu iPhone. É triste ir lendo o diário, montando o post, e vendo que não tem fotos legais pra ilustrar o que eu vi, vivi e venci por lá. Mas, pra não dizer que não falei das flores, vou contar um pouco de como foram os dois dias do Lollapalooza Chile 2017. :)

Primeiro, o Lolla foi praticamente a desculpa pra essa viagem. Na real, eu já programava ela fazia mais de um ano, era pra ter rolado do ano passado porém, por mil motivos, não rolou. Então, ainda no ano passado, quando saiu programação do festival eu pensei: É AGORA OU NUNCA. Comprei o ingresso para os dois dias antes de pensar em qualquer outra coisa, de ver passagem, hospedagem, roteiro, pra onde ia, nada. Quando meu celular apitou sinalizando que a compra no exterior foi aprovada eu não sabia se comemorava ou se chorava, porque ONDE EU ESTAVA COM A CABEÇA?

Mas, ainda bem que eu fiz isso. :) Hoje, quando eu paro pra contar alguma coisa da viagem, o Lolla é uma das últimas coisas que eu lembro, sabia? Porque teve taaaanta coisa incrível que quando eu paro pra pensar eu digo: e ainda teve o Lollapalooza! Foi a porta de entrada pra essa minha experiência, e eu sou bem grata por isso. Eu nunca tinha ido pra festival grande assim, e quando pensava em ir não cogitava ir sozinha, nem em outro país, nem em um que não se pode beber. E foi tudo como o inesperado, ainda bem. :) No Lollapalooza do Chile não vende bebida alcóolica, só pra quem paga quase o dobro do preço do ingresso pra ficar no “lounge”, ter acesso a umas fichas de cerveja e wisky, umas facilidades de banheiro e lugar pra sentar. Eu não e$tava di$posta a isso, então fiquei de boa na ~geral~ do festival.

Aqui eu quero fazer um parênteses para a minha relação com o álcool. Eu bebo muito. Não só em quantidade, mas em frequência. Sou o tipo de pessoa que tem dificuldades de sair na noite se não for pra compartilhar uns brindes, essas coisas. Que tem aquele sentimento de “hoje eu PRECISO beber”, às vezes pra comemorar, às vezes porque to na bad. Isso é um nível de dependência? Claro que é.

Mas quando eu falei algo sobre o Lollapalooza Chile no meu Facebook, me impressionou a quantidade de gente que gritava que lá não podia beber, que era foda porque não tinha álcool, que nunca mais ia pra um festival desse que não pode beber, que era melhor não ir… Minha gente, fiquei impressionada. Juro.

Porque em momento algum o fato de não beber lá dentro me incomodou a ponto de pensar em desistir. Eu estava indo disposta a ter uma experiência tão maior do que ficar bebendo por lá, sabe? Que isso virou um detalhe pra mim. Queria beber? Queria. Preferia que tivesse álcool? Preferia. Senti falta? Senti. Entrei com bebida escondida no primeiro dia? Entrei. Mas no segundo dia nem fiz questão. Foi fácil de sentir e de me lembrar que eu estava lá por outros motivos e por outras experiências.

Em Santiago não se pode beber na rua, eles são bem rigorosos com isso. Alguns estabelecimentos só podem vender bebida alcóolica durante o dia, outros durante a noite, outros tem licença para o dia todo. Alguns só podem vender bebida alcóolica se você comer algo do cardápio, porque a licença de bar é diferente da de restaurante. Ao mesmo tempo que lá a maconha é descriminalizada, é natural ver as pessoas fumarem nos parques, na rua, produtos feitos à base de maconha sendo vendidos em qualquer lugar, e cada pessoa tem direito a plantar até 3 pés de maconha em casa“Desde pequeno você é induzido a fumar
Induzido a beber, ouvindo a TV falar
Diga não às drogas, use camisinha e pare de brigar
Mas beba muito álcool até sua barriga inchar”

Esse trecho da música “A culpa é de quem?” de Planet Hemp nunca fez tanto sentido pra mim. Aqui no Brasil nossa política de drogas é um lixo, e realmente somos o tempo inteiro estimulados ao álcool. Inclusive, esquecemos que ele é uma droga, uma das piores (se não a pior) das que temos acesso. E que acesso! Não só facilitado, mas induzido. Aqui não tem regra. Qualquer pessoa, de qualquer idade, pode beber em qualquer lugar a qualquer hora.

Então o fato da “restrição” do álcool no festival e na rua de Santiago, junto com a reação das pessoas a esse fato, me levou a pensar muito sobre isso. E oh, Santiago ganhou mais um ponto comigo. Álcool é droga, seríssima, e precisa de uma atenção maior da sociedade. Mas aqui no Brasil o buraco (aquele, por onde entra e sai um monte de dinheiro) é bem mais embaixo…

Mas bem, voltando ao Lollapalooza… :)

No primeiro dia eu tinha dado um rolê mais cedo pelo centro e ido na La Chascona, que é uma das casas de Pablo Neruda. Super vale a pena ir para conhecer mais sobre a história do poeta, sobre a participação dele na história do Chile e dar um rolê na casa que é linda.Saindo de lá ainda dei uma volta no Barrio Lastarria, que é um bairro lindo, cultural, artístico, caro, maravilhoso. Tem um monte de opção de comida vegana, orgânica, feira na rua, festival gastronômico, cinema, teatro. É indo, vale dar uma volta. Pena que não tem nenhuma foto dele que se salvou no meu celular. :( Mas vale tanto andar por lá que terminei perdendo a hora de ir pro Lolla. Lá em Santiago, nessa época de começo de outono, ainda escurece mais tarde, então eu jurava que era cedo até receber uma foto de Felipe já por lá. Foi quando corri pra casa pra tomar um banho, tacar uns glitter na cara (CLARO) e sair.

Fui de metrô, super de boa. Entrei com uma garrafinha de 200ml de wisky presa na perna com a meia. Eu tava de macacão pantalona, aí não dava pra ver e a revista é bem superficial. Mas tava ridículo eu andando meio mancando. Bebi rápido pra não ficar segurando aquilo na função, deu um brilho e pronto. Me fez ver que não valia a pena o esforço. :PO Parque O’Higgins, onde aconteceu o Lollapalooza, é lindo! Demais! Fui andando pelas tantas atrações que tinham por lá, debaixo do sol de rachar às 16h da tarde, reconhecendo o território. Tinha fila pra tudo, até pra tirar foto no letreiro com a marca do Lolla. Eu me neguei hahaha Só peguei fila pra banheiro porque né, é necessidade básica :P

Vi alguns brasileiros passando por lá, mas eu tava afim de interagir com os gringos hahaha. Troquei ideia com um monte de gente. Engraçado como no festival as pessoas parecem mais dispostas a interagir por qualquer assunto. É quase um elevador gigante. Fala do calor, do frio, do sol, aí quando vê tá falando do show, da música que é de um filme, fala de cinema, arte, trânsito e depois vai cada um pra um canto. Foi massa viver isso, e acredito que só passei por isso porque estava sozinha e bem disponível a trocar esse tipo de experiência.

No primeiro dia o que eu mais fui pra ver era Cage The Elephant, Rancid e Metallica. Algumas bandas que eu também queria ver, tipo Bomba Estéreo, Villa Cariño, Newen Afrobeat, The XX e outras, eram em horários ruins, chocavam umas com as outras ou o deslocamento era muito grande entre uma e outra. Aí terminei não vendo tanta coisa assim. Mas o que vi foi memorável.

Eu estava usando uma pochete + uma doleira. No show de Rancid <3 eu estava lá na frente, bem disposta a entrar em toda roda punk que abrisse. E COMO ABRIA! E todo meu sangue adolescente correu, pulou e meteu porrada nas minhas veias durante o show todo. Foi incrível! Até que no meio da roda de Time Bomb, eu percebi que minha pochete tinha arrebentado! Mas ela ainda estava presa a mim POR UM FIO. Literalmente por um único fio. Aí entrei na nóia de que ia perder minhas coisas, amarrei a pochete, coloquei por dentro do macacão e recuei um pouco.

Quando o show de Rancid terminou, uma avalanche de gente começou a entrar pra tomar seu lugar pra ver Metallica. Enquanto The XX tocava no outro palco, eu tentava remar contra a maré pra ficar mais distante um pouco e conseguir voltar pra casa com minha pochete ainda. Resolvi que o show de Metallica seria mais de contemplação. Estava me preparando psicologicamente. Nessa espera conheci Miguel, um chileno super gente boa que me salvou com água e companhia, já que sair dali pra comprar algo pra molhar a garganta seria humanamente impossível.

Depois de ter passado o dia todo pingando de conversa em conversa, e curtindo muitos momentos sozinha, foi massa ter uma companhia pra trocar ideia. Ficamos conversando que só, e eu jogando todo meu portunhol em campo. Pense num exercício. Chegou uma hora que eu já tava cansada de pensar em espanhol, juro. Deu caibra no juízo! Hahaha :)

O show de Metallica… Porra… Impossível descrever. Não sei nem por onde começar. Foi uma coisa incrível. Que energia maravilhosa. Como eles são fantásticos. Como eles contagiam. Como eles são felizes no palco. Como é bonito tudo. O palco gigante parece que fica pequeno pra eles, assim como o parque gigante parece que ficou pequeno pra gente. Não teve muito essa de ficar distante pra contemplar. Quando eles começaram todos éramos um só, pulando, gritando, cantando, se emocionando. Foi demais! Memorável. Inesquecível.

Quando terminou o show, eu e Miguel fomos caminhando por três estações de metrô, porque estavam muito lotadas as mais próximas do parque, e conversando sobre como tinha sido um momento incrível. O Lolla termina cedo, fui pra casa descansar e na saída da estação Baquedano pra ir pra casa, descobri um restaurante com chopp Heineken que fica aberto até 5h da manhã. Queria mais o que? Umas saideiras pra dormir melhor (olha o vício aí) e dormir pensando “amanhã tem mais”.

Acordei no domingo com uma gritaria, música eletrônica, zuada da porra. A tal Maratón de Santiago tava rolando e me acordou mais cedo do que eu planejava. Mas já que tinha levantado, vamo pra rua, né? Eu tava querendo ir numa feirinha de artesanato, e pensei: domingo é dia disso, né? Então fui pro Cerro Santa Lucia, que tem uma feira de artesanato indígena lá e uma feira de artesanato na frente. Mas tudo isso fecha no domingo ¬¬ Tudo bem, não foi viagem perdida. Fui dar uma volta no Cerro Santa Lucia que é lindo! Pena que perdi as fotos que tirei de lá, e só se salvou essa que postei no Facebook a tempo. :( O lugar é muito bonito e é massa sair andando, subindo por uns lugares, descendo por outros, descobrindo essas vistas maravilhosas, os diferentes jardins. Conheci um schanuzer chamado Pisco <3 Ele é bem menor que o Cerro San Cristóbal, mas é uma delícia! Mas atenção: as pedras escorregam. Levei uma queda que fiquei com um braço roxo, pra combinar com as outras ronxas que arrumei nas rodas de Rancid :P E aqui mais uma vista panorâmica da cidade, lá de cima do Cerro. Saindo de lá fui encontrar com Gustavo e com Felipe pra almoçar, fomos no Galindo, que já tinha ouvido falar muito bem. Lá é um desses lugares que só serve bebida se você pedir comida, então pedi um chopp da casa com uns pastéis pra esperar os meninos. Quando chegaram eu pedi uma La Trappe Dubbel que estava pelo equivalente a 17 reais lá, quando aqui por baixo ela custa na casa dos 30. Deliciosa e forte, foi o que fiquei bebendo enquanto comia uma deliciosa Paila Marina. Mais gostosa e mais barata que a do mercado (mas cara ainda assim), lembrei de pedir ~sin cilantro~ e fui feliz demais enquanto os meninos detonavam duas bistecas gigantescas.Bem alimentada e já com umas cervejas fortes no juízo, fui pro Lollapalooza, dessa vez sem nenhuma bebida escondida, porém com o mesmo brilho de sempre hehe :PEngraçado como a gente tem dias e dias, né? No sábado eu tava toda comunicativa, trocando ideia com qualquer pessoa em qualquer idioma, praticamente haha :P Mas no domingo eu tava numa vibe mais introspectiva, afim de ficar quieta e observar. E foi isso que eu fiz. Fiquei um tempo sentada na grama, ouvindo Jimmy Eat World de longe e olhando as pessoas bebendo as cervejas, vinhos e vodkas que tinham levado escondido, crianças brincando, casais se agarrando. Tinha até um moço que me chamou a atenção, ele também estava sozinho e puxou um livro, relativamente grande, e começou a ler. Então eu percebi que a vibe introspec não era só minha, e desejei ter um livro comigo naquele momento.

Resolvi dar uma andada, bem desligada dos horários dos shows, fui até o outro palco maior. Estava começando Duran Duran <3 Entre bonecos gigantes com trajes típicos chilenos, tinha uma LLAMA GIGANTE. Sim, uma LLAMA BONECO GIGANTE.O show de Duran Duran foi maravilhoso. Feliz, colorido, animado. Arrisco a dizer que foi o melhor show do dia. Two Door Cinema Club foi massa também, e eu tava bem animada pra ver Mad Professor. Mas por uma falha de informação da galera do evento, terminei trancada do lado de fora de um espaço que estava com uma fila quilométrica formada pelo núcleo babypalooza pra entrar pra ver o show de algum DJ famoso que eu não faço a menor ideia de quem seja.

Fiquei tristinha e sentei na grama de novo pra ver The Weeknd de longe, enquanto esperava o que eu mais queria ver: The Strokes. Arrumei um lugar lá na frente e fiquei na expectativa. Uma expectativa que durou bastante, porque a banda atrasou bastante. Todo mundo já tava gritando, reclamando, aplaudindo, vaiando, e nada deles entrarem no palco. Quando entraram, com aquela animação de 4 postes, tocaram a primeira música inteira sem sair som do vocal.

A platéia toda gritando “No te escuchan! No te escuchan!” dando dedada, sacudindo os braços, dizendo que não, e nada da técnica parar. Então quando terminaram a música deram uma super pausa pra tentar corrigir, quando voltou o vocal a galera comemorou horrores e eles perguntaram se a gente queria a primeira música de novo, elogiaram o fato da gente ter se comunicado com eles avisando da falha no som (oi?) e pronto, foi o único momento de interação da banda com o público. Depois disso, tocaram super morgados, com pausas enormes entre as músicas, sem instiga nenhuma. Oh, que saudades de Metallica <3 Até o show de The Weeknd, que eu acho super morgado e vi sentada de longe, me pareceu mais animado que Strokes.

A sorte é que eu realmente gosto muito das músicas, elas me transportam para lugares e tempos maravilhosos, e a galera ao redor estava numa instiga massa. Então não foi de todo ruim, sabe? Mas foi uma decepção pra fechar o Lolla com chave de bronze. Sozinha e praticamente calada do começo ao fim, fiz o caminho de volta que tinha feito com Miguel na noite anterior e fui pro mesmo bar da noite anterior. Felipe foi me encontrar e ficamos bebendo e conversando besteira até de madrugada, morrendo de frio.

O Lollapalooza Chile foi uma experiência maravilhosa. Pelos shows, pelas pessoas, pelas conversas, pelo silêncio, por tudo que pude ver, sentir, conhecer. Me encantei, de verdade. E fiquei querendo ir para mais festivais, apesar de às vezes sentir um “não tenho mais idade pra isso”, eu olho para esses dias com saudade e a certeza de que me ajudaram a seguir bem a viagem sozinha, sabe? Por isso, agradeço. :) 



© 2023 - ideias de fim de semana