o paradoxo de apressar o relógio pra querer tempo
Que o tempo é o mestre das coisas, isso pra mim já está claro. Só ele cura, só ele amansa, só ele constrói, só ele destrói. Mas desde que mudei meu estilo de vida para trabalhar em casa que eu tenho me perguntando porque vivemos querendo apressar o relógio. Agora que eu trabalho por conta própria, pra mim a sexta-feira não é mais super valorizada, e nem o final do mês. Mas será que é só pelo trabalho que queremos tanto apressar as coisas?
Eu acho que nunca tinha visto tanta gente pedindo o fim de agosto e o começo de setembro como esse ano, como se isso fosse a cura para tantos problemas. Tudo bem que tem todo um misticismo em torno de agosto, mas será que é só isso? Ou nós não estamos conseguindo viver os nossos dias e vivemos fazendo planos para um amanhã que nunca chega? Olhando de cima, acho que ainda estamos vivendo numa fase de “vou guardar tudo pra ser feliz nas minhas férias”, e assim vivemos apenas a felicidade um mês no ano? Ou dois dias na semana em detrimento de cinco? Isso tem me deixado maluca.
Porque ao mesmo tempo que comemoramos que finalmente acabou agosto e chegou setembro, estamos planejando nosso ano novo e nosso carnaval, e quando vê estamos em 2020. E não é exagero, falta pouco. Bem pouco. E nesse ritmo de sempre querer que o amanhã chegue mais rápido, vamos vivendo cada vez menos e planejamento cada vez mais coisas que nós ainda não sabemos se vamos viver.
Esses dias tive um pesadelo terrível, pior do que os que eu tenho normalmente. Sim, eu sofro de pesadelos e tenho vários dos piores tipos. Mas esse foi péssimo. Eu dormia, acordava, dormia e entrava nele de novo. E acordei com os olhos grudados de quem chorou a noite toda, sabe? Pronto. E nesse pesadelo, sem detalhes, eu perdia a minha irmã e a minha cachorra. E tudo que eu pensava era que tinha passado pouco tempo com a minha irmã, que a gente se falava pouco, se curtia pouco, que eu não dava a atenção devida a Chica mesmo estando em casa, e que devia ter levado mais ela pra passear na praça ou correr na praia. E isso me deixou nervosa e até meio paranóica.
Porque ao mesmo tempo que queremos que o mês termine, queremos viver cada dia como se fosse o último. E queremos realizar tantas coisas, fazer tantas viagens, conhecer tantos lugares, comer tantas comidas gostosas, sair com aqueles amigos que sempre marcamos. É o paradoxo do tempo. Nós conseguimos deixar ele ainda mais relativo, porque ao mesmo tempo que queremos apressar a sexta-feira, queremos ter tido mais tempo com os amigos. Ao mesmo tempo que queremos o final do mês logo, queremos tirar da agenda aquela ida a um bar legal. Mas estamos sempre esperando aquele dia… Aquele, sabe?
Esse desabafo todo é porque chegou a sexta-feira, e vamos ver um monte de gente comemorando que hoje tem. E quando chegar a segunda-feira vamos ver pessoas tristes, pedindo que a semana passe rápido. Não essa, que é feriado, né? Mas em todas as outras segundas-feiras “normais”. Aí quando vê, acabou setembro. E o que você fez que fez a diferença na sua vida? O que você fez pra ser feliz? O que fez que te fez bem ou que fez bem para outra pessoa?
Vamos desacelerar, gente. Vamos parar de supervalorizar os finais de semana, o final do mês, as férias que nunca chegam. Vamos fazer dos nossos dias momentos mais com mais prazer, pra querer que cada um dure pra sempre. E se quando você lê isso você pensa que não tem tempo pra ser feliz porque está trabalhando demais ou ocupado demais, repense seu estilo de vida. Porque cada dia te oferece uma chance de ser inesquecível, e se você estiver pensando no amanhã pode não enxergar.
Bom dia, todos os dias.